terça-feira, 25 de março de 2008

Capítulo 13: O casamento de Janjão

Após relembrar a aventura na casa abandonada (e fedorenta), precisei me ausentar por alguns dias a fim de fazer uma reciclagem intestinal (acho que me senti motivado pela lembrança daquela missão tão difícil). Meditando no trono, pude voltar no tempo e me recordar de um fato marcante na saga de Spider-Man, diria até um capítulo de realce na minha história.

Estava eu em um momento de leitura (havia acabado de comprar o Almanaque do Pateta), quando recebi uma ligação interurbana. Era meu grande amigo Edgar Barrão, dono do boteco, me convidando para o casamento de Solange.

Janjão era a única filha do bom e velho Barrão, que além de comerciante era o técnico do Segura Que Eu Largo, time de futebol de Quissamanduca, ao qual fazíamos parte eu, Pedro, Cipó, Paulinho Pinga Pura, Juvenil, Duduzinho Pirata e a própria Solange, uma zagueiraça que intimidava todos os atacantes adversários. Com seu 1,90m de altura, ela não era propriamente um primor de técnica, caracterizando-se pela “virilidade”, muitas vezes chegando à violência para contar os rivais. Outro detalhe que impressionava era o fato de Janjão abdicar do direito de usar chuteiras. Como não havia calçado na cidade que comportasse aquela chanca 47, ela jogava descalça (reza a lenda que, em casa, usava uma havaiana em cada dedo), o que tornava a unha do seu dedão uma autêntica lâmina enferrujada.

Bem, voltemos ao fio da navalha, quer dizer meada. Edgar Barrão ligara a fim de me convidar para o casamento de sua amada filha. Ele fazia questão de ressaltar que, para comemorar o enlace, promoveria uma festa inesquecível em Quissamanduca Town. Ansioso por rever meus grandes amigos de infância e adolescência, comprei a passagem de ônibus para o retorno à minha terrinha querida.

Agora preciso dar uma pausa para voltar a descrever tal meio de transporte (eu já tente fazer isso no capítulo 7). Pilotado por seu Fudêncio, popularmente conhecido por Schumaker, o busum saía do Rio sempre de 15 em 15 dias, pontualmente entre meia-noite e três da manhã. Nosferato, como nós chamávamos o valente ônibus modelo 73, estava excepcionalmente lotado (na vinda para a Cidade Maravilhosa, havia 97 pessoas, mas naquela noite foram 106, sendo que um passageiro levou seu Dog Alemão chamado Conan e outro fez questão de carregar sua cama de casal).

Regada ao som de muita música sertaneja, funk e heavy metal, a viagem seguiria tranqüila até chegarmos em Santa Rita da Casa do Carvalho. A cidade, que tinha na criação de calangos sua grande riqueza econômica, possuía uma estrada muito irregular. Quando chegávamos a uma subida, por exemplo, todos saltávamos e empurrávamos o ônibus preto até chegarmos ao trecho mais plano. Na descida, era a vez de escorarmos o possante Nosferato, que ficava somente com Schumaker ao volante e Conan como co-piloto. Os constantes balanços do veículo, inclusive, não faziam bem ao intestino do animal que, sem alternativas, disparava contínuas bufas silenciosas. Somados as fragrâncias de todos os passageiros, aqueles traques malditos tornavam o odor do ambiente indescritível. É importante ressaltar que, com o banheiro do ônibus interditado (há seis anos), seu Fudêncio disponibilizava penicos aos passageiros, porém somente 20 eram contemplados no bingo que ocorria logo no início da viagem.

Depois de dez dias de estrada, chegamos a Quissamanduca, que poderíamos classificar como o lugar onde o gato perdeu as meias (porque as botas ele perdeu bem antes). Logo fui reencontrando meus velhos amigos, um a um. Meu grande parceiro Paulinho Pinga Pura, no entanto, me deu uma triste notícia: sua mãe, dona Calibrina, havia falecido. Sua trágica morte abalou a comunidade quissamanduquense. Após degustar de quatro garrafas de caipirinha e duas jarras de Rabo de Galo, a pobre velhinha caminhou em direção ao trilho e, confundindo o trem com a irmã que não via há anos, resolveu dar um abraço fraterno na composição que vinha em alta velocidade em sua direção. Emocionado com a perda de figura tão ilustre, o prefeito Cornildo Manso (seguia no poder há mais de vinte anos) decidiu prestar uma singela homenagem à dona Calibrina batizando o alambique da cidade com o nome da querida senhora.

Voltando ao casamento, foi uma festa inesquecível. O já velhinho Frei Natanael, fraco com a bebida devido à idade avançada, tomou uns goros antes da cerimônia e causou furor entre as beatas de Quissa ao adentrar a igreja completamente nu. Reparado o acidente, o padre, que caiu duas vezes durante a cerimônia, emocionou a todos com seu sermão, lembrando, em tom de absoluta nostalgia, nossa época de criança, quando Solange, sempre peralta, batia na gente com uma ripa de madeira. Ao som de “Eu vou tirar você desse lugar”, sucesso retumbante de Odair José, Janjão entrou no recinto acompanhada do pai, seu Sem (ele perdeu braço direito ao acender um cigarro para a falecida dona Calibrina). Logo atrás, levando as alianças, nosso amigo Zeca Pebolim arrasava usando um meio-fraque cinza (alguns meninos inconseqüentes colocaram depois o pobre Pebolim em cima da geladeira da sacristia).

Após o sagrado sacramento, Solange e o noivo Rodovil seguiram para a lua-de-mel nas montanhas, mais propriamente no Morro Cambole, atração turística de Quissamanduca. Despediram-se dos convidados e seguiram para o chalé, carinhosamente denominado pela população como chulé.

Feliz por ter reencontrado meus amigos, eu já me preparava para retornar ao Rio quando Pedro me chamou para conversar, me comunicando o momento difícil que estava atravessando. Este, porém, é assunto para o próximo capítulo.

5 comentários:

Aurea disse...

Mais um... mais um!!!! Assim não vale! Só deixando agente na curiosidade!!!! Que espectativa!

Unknown disse...

Éh sinistro ter que interromper uma leitura pra atender um interubano.
Sem dúvida o interessante éh que nesse contexto de união,a amizade falou mais alto...Eu havia esquecido ou estava meio apagado o significado dessa palavra.(pinico)rsrsr
Mas a vida conspirou a seu favor pondo em vc uma mente brilhante.
Um dos saldos positivos pra vc já pode contabilizar aqui.
Edu vc a cada dia me surpreende mais e mais.Tem uma capacidade maior do que vc possa imaginar.Sabe qual eh? Conseguir fazer da gente alvo de sua atenção.
Esse seu blog contém 4.70000000000 substâncias que causam dependência física ou psíquica.Nossa! quantas substâncias hein!
(Ler um capitulo senti o gostinho quer ir p/segundo)
Esse éh o detalhe.
Arrasou mais uma vez.

Patricia disse...

HAHAHAHA....
E a magia continua!!!!!
De onde sai isso tudo??? Queria poder entrar lá pra dentro da sua cabeça, pra dar uma fuçadinha!! Nóssa... Seria o máximo!!! Mas já que não posso, hehehe, fico daqui tendo a experiência, um capítulo de cada vez!!!!
Continua, meu querido, pois estou amando essa jornada!!!!

Aurea disse...

GARANTIDO:Vamos todos sentir saudades da nossa leitura diária...
Sei que o Spider vai ter que tomar no momento outro rumo mas vai fazer MUITA falta! BOA SORTE AMIGO!

Unknown disse...

Fala Uga!!!

Kara Pálida, é brincadeira, vc tinha q ser processado por promover excesso de risos......

Agora só quero saber qdo sairá o próximo capítulo da saga, uma vez q de sua privilegiada e cômica kbç podemos esperar de td.

Um forte e carinhoso abraço
Boi