terça-feira, 11 de março de 2008

Capítulo 8: Como uma Onda no Mar

Minha primeira residência em terras cariocas foi em um bairro muito agradável chamado Santa Cruz, cujo clima é muito semelhante ao da Namíbia, na África. As temperaturas variavam entre 35 graus (no inverno) a 68 (no verão). Eu dividia uma quitinete com outras seis pessoas, o que tornava as condições climáticas do ambiente muito próximas das que devem ser encontradas no inferno (houve uma noite tão insuportável de quente que realmente acreditei ter visto o capeta).

Em uma conversa informal com algumas pessoas muito simpáticas que conheci em um local onde eu almoçava todos os dias, o Sopão Feliz, decidi conhecer a Zona Sul, principalmente algumas de suas praias tão conhecidas. Como a única sunga que tinha era a do Spider (evidente que aquela que parecia um chaveiro eu dei pro Pebolim, que ainda reclamou de estar apertada), coloquei meu short preferido (era um que tinha várias imagens do Pateta), uma camiseta regata que ganhei numa promoção das Casas do Pano (a mais famosa butique de Quissamanduca), calcei meus chinelos e parti rumo ao Leblon, um dos locais mais chiques da cidade.

Como eu ainda não conhecia o Rio direito, tive alguma dificuldade para chegar ao famoso bairro. Depois de pegar 12 ônibus, porém, finalmente ao meio-dia estava no Leblon (previdente, saí de casa às 4 da manhã). Encantado com as lindas mulheres que desfilavam na areia quente (acabei de me lembrar da melhor banda de rock’n roll dos anos 80), procurei encontrar uma cantinho para que pudesse sentar e apreciar as riquezas oferecidas pela mãe natureza..

Absolutamente hipnotizado com a imensidão do azul do mar (salve Tim!), eu olhava aquela calmaria quase celeste e me recordava dos alegres banhos no lago de Quissamanduca (eu saía da água todo verde e sebento por causa do lodo). Uma lágrima solitária de saudosismo escorria do canto de meu olho direito quando avistei um menino se afogando. Com meu instinto de super-herói destemido, levantei-me rapidamente e parti correndo em direção daquele pobre indefeso. Ao entrar como um raio na água, tropecei e bati com os córneos no raso. Prontamente, porém cheio de areia na boca e no nariz, me recuperei e segui para minha missão. Estava dando pé, o que facilitou um pouco minha tarefa. Consegui pegar o garoto e ficamos em um banco de areia (um local bem rasinho que fica entre a beira e a arrebentação das ondas). Foi aí que ocorreu um pequeno percalço, que tornou meu salvamento dramático. Eu conversava com o menino e me preparava para levá-lo de volta à beira quando senti algo se aproximando de mim. Virei lentamente para trás e, por conseqüência, para o alto, porque a onda que já se encontrava a um metro de mim parecia um prédio de seis andares. Em um instinto super-heróico, peguei o garotinho pra protegê-lo e senti aquele impacto, que varreu tudo que tinha pela frente. Neste exato momento, tive a exata noção de como se sente uma calça jeans dentro de uma máquina de lavar. Eu rodava e virava numa viagem alucinante. Em um determinado momento, consegui olhar para frente e o que avistei aumentou ainda mais o meu tormento: justamente na minha direção, uma senhora, que devia pesar algo próximo dos 200 quilos, se banhava inadvertidamente com um baldinho. Com uma velocidade espantosa, aquela onda sinistra me projetou (não me perguntem como, mas eu conseguia segurar uma das mãos do moleque) em direção à parte traseira do mamute, perdão, da moça que pegava água com o singelo balde amarelo. A visão daquela imagem me fez, por alguns parcos segundos, repensar a vida. Ciente do impacto inevitável, apenas pedia a Deus que tivesse piedade de minha alma. Como se eu fosse uma bala de canhão, meu rosto foi direto de encontro à busanfa gigante da velha. Numa reação de puro reflexo, agarrei aquela montanha de carne e fomos todos juntos (eu, o moleque e a gordona) em direção à beira. Já sem a força de antes, a onda apenas nos largou na areia, mas as conseqüências foram dramáticas. Como uma baleia encalhada, a senhora era reanimada por algumas das centenas de banhistas que presenciaram a cena; o menino foi resgatado de um buraco de uns dez metros de profundidade; e eu, de bruços e com o short do pateta na canela, demorei cerca de cinco minutos pra conseguir lembrar o meu nome.

2 comentários:

Aurea disse...

Demais!!!! Gu vc é o máximo!!! Sua imaginação é fora do comum!!!!! Morro de pena cada vez que termino de ler um novo capítulo!!!! Sempre quero ler mais!!!!! Parabéns!!!!

Patricia disse...

hehehehehehehe.... Santa Cruz tá pareo duro com a minha terrinha aqui!!!! hahahahaha....
Eita imaginação boa!!! hahahaha....
Cara, da pra vêr que você já tomou um cachote dos bons (Eu já! hahaha...) Pois você descreveu EXATAMENTE!! hahahaha... Mas Graças a Deus, no meu caso eu não tive o mesmo fim! hahahaha....
Continua, Gu, pois está cada dia ficando melhor!!!!