Como vocês sabem, a criação deste blog é uma oportunidade para desfazer mitos e revelar à humanidade minha verdadeira história. Após longo tempo meditando em meu local de reclusão favorito (os Montes Tículos), volto para dar continuidade às revelações extraordinárias.
Depois de alguns meses morando no Rio, vi que era necessário ter um automóvel para dar continuidade à minha missão de salvar as pessoas dos mais terríveis perigos. Percebi isso quando seguia pelo alto de determinados bairros, usando minhas teias, e levava uma pá de pedradas. A molecada vibrava cada vez que me acertava. Até aí, tudo bem. Arrumei um capacete com um vizinho que era motoboy lá em Santa Cruz, e segui fazendo a festa da pivetada. Mas quando descobri que os garotos faziam pontuação, e acertar a parte da frente da sunga do Spider valia cem pratas, resolvi buscar uma alternativa mais segura.
Em uma bela noite, dei uma passadinha rápida no botequim do Seu Senta (um senhor que a moçada dizia ser meio baitola) e vi em uma das paredes o anúncio escrito à mão sobre uma rifa que correria na semana seguinte. Uma das atrações era um carro. Senti que o destino poderia estar me reservando uma grata surpresa. O anúncio ordenava a premiação: 5º prêmio – duas entradas para o show do grupo de pagode Suvaco Suado; 4º prêmio – uma noite na suíte do Motel Cafofo do Créu; 3º Prêmio – uma inacreditável Brasília azul ano 72 (equipada com volante de pau, rodas com carlotas de magnésio, teto suvinil; banco inclinável e um super som, com um tuíster e dois autofalanges); 2º Prêmio – um ferro elétrico Borel (feita no morro que dá nome à marca); 1º prêmio – um liquidificador Valita (com v mesmo).
Em um primeiro instante, achei um pouco estranho o carro ser somente o terceiro prêmio, mas não pensei duas vezes e coloquei as duas pratas (valor único) no balcão do bar do seu Senta, o idealizador da rifa. O resultado do esperado concurso não sairia pela Loteria Federal e sim numa popular mão no saco que rolaria nas dependências do estabelecimento.
No dia do evento, mal pude acreditar quando a bicha velh, quer dizer, seu Senta gritou meu nome como vencedor do terceiro prêmio. A multidão, eufórica, me carregou em triunfo pelo quarteirão (o mais feliz era seu Belarmino, um ex-escravo de 118 anos que iria levar a jovem esposa, de 87, para passar uma noite de luxúria no Cafofo do Créu).
Dois dias depois do sorteio da rifa, seu Vasco (dono da pensão onde eu morava), bateu na porta do meu quarto para me avisar que um cara tinha deixado um “troço azul de rodas” para mim em frente ao estabelecimento. Estranhei o recado, mas algo me dizia que poderia ser meu prêmio. Desci correndo as escadas e dei de cara com o possante. Por alguns segundos, fiquei parado diante daquela visão. Aí, então, pude entender a expressão INACREDITÁVEL que estava no anúncio para descrever aquele carro (carro?). Depois de uns 20 minutos tentando abrir a porta do lado do motorista,.finalmente consegui entrar em meu tão esperado prêmio. Ao sentar no banco, o encosto caiu, o que me permitiu um rolamento para a parte de trás. Devido à velocidade do movimento, não pude evitar ficar entalado, com as pernas encostadas no teto e meu nariz colado ao umbigo. A posição desconfortável me permitiu reparar (com o canto do olho) que o carro tinha uma espécie de teto solar: um buraco de cerca de 30 centímetros que proporcionava uma encantadora visão do céu de Santa Cruz. Com a ajuda de alguns amáveis pedestres, consegui sair daquela situação ridícula. Já com o banco devidamente preso com três voltas de barbante, pude me sentar, não tão confortavelmente como imaginava (ficava um pouco tombado para a direita). Pendurada no retrovisor havia uma bola de gude, que depois eu descobriria ser uma peça totalmente dispensável: Claro que nas laterais não havia espelhos, assim como não existia botão algum no super som. Uma coisa, no entanto, tenho de reconhecer: o volume do aparelho era alto pra cacete (pena que o dial ficou fixo na Rádio Relógio). Ah, já ia me esquecendo do estofamento: Não me refiro ao visual, mas ao aroma (certamente o antigo proprietário era pescador e vendia os peixes dentro do carro mesmo).Tomado de uma coragem própria dos super-heróis, resolvi estrear o carro e dar uma volta no bairro. Ao ligar o veículo, houve uma explosão tão forte, que pôde ser ouvida em vários bairros vizinhos. Felizmente, os estragos não atingiram meu automóvel, mas parte da população teve prejuízos significativos (o pai de seu Vasco tomou um susto tão grande que engoliu o copo de cana que estava bebendo). Com a Brasília “despertada”, engatei a primeira para dar início ao meu passeio de reconhecimento, mas houve novo imprevisto: o câmbio ficou na minha mão. Ligeiro como um raio, coloquei a peça de volta e pisei fundo. A bolinha de gude que pendia do retrovisor se fez presente; com uma velocidade impressionante, veio direto na minha testa, que ostentou um parrudo galo durante uns três dias. Arranquei aquela porcaria do espelho e zuni pela janela. Com muito cuidado, engatei a segunda. A criança resistiu bonito. Fui para a terceira marcha, e o carro seguia sem se desmontar. Destemido e cheio de marra, engatei a quarta e, segurando a porta para ela não abrir, consegui passar um garotinho que andava de bicicleta na calçada. Pronto, tinha início a história da valente Brasília azul, que para alguns pode ser o Spidermóvel, mas para mim será o eterno The Blue Thunder.
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2 comentários:
Ai,Ai que sortudo éh esse Spider.Ser premiado e levando p/ casa uma Brasilia Azul. Agora pensando bem,azul com vermelho deve ter dado um contraste chocante não éh Spider!? rsrsrs.
Ja que tô aqui numa situação critica, jamais imaginei q fosse precisar de correr pro banheiro.Agora to que to curiosa sera que da pra passar o Spidermovél pra Total Flex?
Ah! Eu não sei de onde éh q esse Eduardo consegue tirar tanta imaginação,éh inacreditavel....
Mas mesmo eu aqui chorando pra td quanto éh lado rsrsrsr....... ebaaaaaaaaa adorei.
HAHAHAHA.....
Voltou com força total!!!
E eu, me saboreando com essa imaginação deliciosa!!!!
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