quinta-feira, 20 de março de 2008

Capítulo 12: Um herói humilde

Muitas vezes sou abordado na rua por fãs que me perguntam o que faço para manter o físico impecável. Claro que é necessária muita ginástica, mas uma alimentação adequada também é fundamental. Por isso, fiz um acordo com seu Vasco, dono da pensão onde moro, para que minhas refeições fossem balanceadas. Após um início um tanto quanto relutante, o português aceitou e, por um acréscimo de oitenta centavos por dia, passei a ter à disposição um cardápio diferenciado, com destaque para sexta-feira: angu, ovos cozidos e repolho.

Falando no meu prato favorito, uma iguaria conhecida em toda a região como Kriptonita, me recordei de um momento dramático, um dos mais difíceis que enfrentei até hoje, porém fundamental para ajudar a transformar minha história em uma lenda.

Depois de ter repetido quatro vezes a especialidade da pensão do Vasco, recebi um chamado para tentar encontrar uma pequena criança em Del Castilho. O pobre menininho se perdera dos pais e estava preso em uma casa abandonada, que para muitos era mal-assombrada. Imediatamente, parti para o local. Durante o trajeto, surgiu o primeiro indício de que algo terrível estaria por acontecer. Uma forte pontada um pouco abaixo do umbigo me fez refletir se não seria mais prudente um retorno estratégico a fim de descarregar o excesso de pressão. Minha responsabilidade de herói, no entanto, falou mais alto e resolvi seguir em frente.

Ao chegar no local, senti que minha elástica e justa roupa de Spider não tinha a aderência de costume. Percebi que transpirava muito e minha boca ressecara. E, para completar, um ensurdecedor som incomum parecia me acompanhar: sglooommmmb, sbluuunnnng, sblooonnng. Neste momento, admito que me desconcentrei um pouco e, por alguns segundos, pensei em outras coisas que, naquele instante, pareciam mais emergenciais, como um vaso sanitário.

Após uma rápida oração para São Juvêncio da Rolha, voltei a focar a missão. Com muito cuidado, entrei no recinto escuro à procura da criança, que deveria estar com fome e completamente apavorada. Com a visão totalmente prejudicada pela escuridão que assolava o velho casarão, fui caminhando lentamente, pois temia encontrar algum malfeitor ou até mesmo um monstro horrível, como um dragão (vi isso no primeiro filme do Shrek). Contraindo todos os músculos do meu corpo sarado (eu sentia um arrepio frio e intenso), seguia passo a passo, bem devagar, até que, de repente, o menino surgira do nada e: “Bu!!!”. A inesperada ação daquele filho da p, daquele menininho sapeca, provocou uma imediata reação da natureza, mais propriamente da minha natureza. Eu me recordo que a primeira sensação foi a de um peso absurdo na parte posterior da minha roupa, mais propriamente abaixo do quadril. Ainda aturdido com o que pressentia ter acontecido, confesso que perdi um pouco as rédeas da situação após o comentário que o inocente garoto fez: “Ih, tio, acho que você fez totô!”. Tomado de um rápido descontrole emocional, peguei o moleque pelo pescoço, mas o esforço despendido fez com que novo jato de dejetos deixasse as profundezas do meu ser e se alojasse nos reduzidíssimos espaços que restaram entre meu corpo e a justíssima roupa (que já passara a um tom levemente marrom).

Com as costas já cheias de merda, mas com minha tarefa concluída, que era encontrar o garoto (na realidade, foi ele quem me encontrou), faltava apenas colocá-lo em meus braços e deixar a casa, que imediatamente foi tomada por um cheiro indescritível. Ciente de que uma multidão aguardava a saída triunfal do Spider, achei de bom tom não me apresentar aos meus fãs da forma como me encontrava. Decidi, então, arremessar o menino por uma das janelas em direção ao povo, que se acotovelava em frente ao casarão, e, como um raio, saí pela parte dos fundos. No dia seguinte, os jornais de todo o planeta registraram mais um ato de bravura do Spider-Man, porém destacaram também a humildade do herói, que preferiu o anonimato às luzes do glamour e da fama.

4 comentários:

Patricia disse...

“Ih, tio, acho que você fez totô!”... HAHAHAHAHAHAHAHA.....
Gugu, senti a maldita dor de barriga junto com o pobre Spider!!!! Comecei a suar frio, em agonia!! hahahaha.... Você explicou perfeito! hahahahaha... Até os barulhos dentro da barriga!!! hahahahaha...
E adorei a conclusão da estória!!!
PERFEITO!!!!

Unknown disse...

Ah Edu!Eu já sou meio pino, mas não da pra deixar de acompanhar as façanhas do Spider.Pô Edu finalmente pude ter certeza que que os heróis são realmente humildes , mas que eles tem constipação assim não sabia não huahuahuah. Falto alguma pra se analisar as costas,quer dizer o trazeiro ficou limpinho? passou talquinho?Nao entendi isso,me explica! Qual foi a sensação depois do banho?
Olha só.Lá vou eu enche sua bola, depois que vc criou esse blog Garanto que desse momento em diante minhas madrugadas foram longas e regadas a estórias pra contar e haja risadas.

Aurea disse...

Demais Spider! Demais!!!! Dá para ver que vc já passou por um aperto igual a esse pois a explição está perfeita demais!!!!! Hahahahahahaha! mas... kriptonita? Nessas alturas o Spider não pode nunca chegar perto do Clark Kent!!! Já pensou o desastre que seria? Uffff!!!!

Unknown disse...

hahahahahaah....cardápio diferenciado foi d'uma sutileza brilhante: ninguém - nem mesmo Clark Kent - explicaria com tamanha precisão a "fórmula bombástica" da bendita kriptonita......hahahahahahahahaha........e a reação ao susto? o moleque foi totalmente insensível a sua 'bravura'! ( ele precisava comentar sobre o "totô"??? ) - e que excelente saída à francesa ( aliás, mereceria mudar o nome: saída à la Spider seria o ideal!!!!!)....hahahahahahahaha.........
Bom, vamos aguardar o que virá!