Após relembrar a aventura na casa abandonada (e fedorenta), precisei me ausentar por alguns dias a fim de fazer uma reciclagem intestinal (acho que me senti motivado pela lembrança daquela missão tão difícil). Meditando no trono, pude voltar no tempo e me recordar de um fato marcante na saga de Spider-Man, diria até um capítulo de realce na minha história.
Estava eu em um momento de leitura (havia acabado de comprar o Almanaque do Pateta), quando recebi uma ligação interurbana. Era meu grande amigo Edgar Barrão, dono do boteco, me convidando para o casamento de Solange.
Janjão era a única filha do bom e velho Barrão, que além de comerciante era o técnico do Segura Que Eu Largo, time de futebol de Quissamanduca, ao qual fazíamos parte eu, Pedro, Cipó, Paulinho Pinga Pura, Juvenil, Duduzinho Pirata e a própria Solange, uma zagueiraça que intimidava todos os atacantes adversários. Com seu 1,90m de altura, ela não era propriamente um primor de técnica, caracterizando-se pela “virilidade”, muitas vezes chegando à violência para contar os rivais. Outro detalhe que impressionava era o fato de Janjão abdicar do direito de usar chuteiras. Como não havia calçado na cidade que comportasse aquela chanca 47, ela jogava descalça (reza a lenda que, em casa, usava uma havaiana em cada dedo), o que tornava a unha do seu dedão uma autêntica lâmina enferrujada.
Bem, voltemos ao fio da navalha, quer dizer meada. Edgar Barrão ligara a fim de me convidar para o casamento de sua amada filha. Ele fazia questão de ressaltar que, para comemorar o enlace, promoveria uma festa inesquecível em Quissamanduca Town. Ansioso por rever meus grandes amigos de infância e adolescência, comprei a passagem de ônibus para o retorno à minha terrinha querida.
Agora preciso dar uma pausa para voltar a descrever tal meio de transporte (eu já tente fazer isso no capítulo 7). Pilotado por seu Fudêncio, popularmente conhecido por Schumaker, o busum saía do Rio sempre de 15 em 15 dias, pontualmente entre meia-noite e três da manhã. Nosferato, como nós chamávamos o valente ônibus modelo 73, estava excepcionalmente lotado (na vinda para a Cidade Maravilhosa, havia 97 pessoas, mas naquela noite foram 106, sendo que um passageiro levou seu Dog Alemão chamado Conan e outro fez questão de carregar sua cama de casal).
Regada ao som de muita música sertaneja, funk e heavy metal, a viagem seguiria tranqüila até chegarmos em Santa Rita da Casa do Carvalho. A cidade, que tinha na criação de calangos sua grande riqueza econômica, possuía uma estrada muito irregular. Quando chegávamos a uma subida, por exemplo, todos saltávamos e empurrávamos o ônibus preto até chegarmos ao trecho mais plano. Na descida, era a vez de escorarmos o possante Nosferato, que ficava somente com Schumaker ao volante e Conan como co-piloto. Os constantes balanços do veículo, inclusive, não faziam bem ao intestino do animal que, sem alternativas, disparava contínuas bufas silenciosas. Somados as fragrâncias de todos os passageiros, aqueles traques malditos tornavam o odor do ambiente indescritível. É importante ressaltar que, com o banheiro do ônibus interditado (há seis anos), seu Fudêncio disponibilizava penicos aos passageiros, porém somente 20 eram contemplados no bingo que ocorria logo no início da viagem.
Depois de dez dias de estrada, chegamos a Quissamanduca, que poderíamos classificar como o lugar onde o gato perdeu as meias (porque as botas ele perdeu bem antes). Logo fui reencontrando meus velhos amigos, um a um. Meu grande parceiro Paulinho Pinga Pura, no entanto, me deu uma triste notícia: sua mãe, dona Calibrina, havia falecido. Sua trágica morte abalou a comunidade quissamanduquense. Após degustar de quatro garrafas de caipirinha e duas jarras de Rabo de Galo, a pobre velhinha caminhou em direção ao trilho e, confundindo o trem com a irmã que não via há anos, resolveu dar um abraço fraterno na composição que vinha em alta velocidade em sua direção. Emocionado com a perda de figura tão ilustre, o prefeito Cornildo Manso (seguia no poder há mais de vinte anos) decidiu prestar uma singela homenagem à dona Calibrina batizando o alambique da cidade com o nome da querida senhora.
Voltando ao casamento, foi uma festa inesquecível. O já velhinho Frei Natanael, fraco com a bebida devido à idade avançada, tomou uns goros antes da cerimônia e causou furor entre as beatas de Quissa ao adentrar a igreja completamente nu. Reparado o acidente, o padre, que caiu duas vezes durante a cerimônia, emocionou a todos com seu sermão, lembrando, em tom de absoluta nostalgia, nossa época de criança, quando Solange, sempre peralta, batia na gente com uma ripa de madeira. Ao som de “Eu vou tirar você desse lugar”, sucesso retumbante de Odair José, Janjão entrou no recinto acompanhada do pai, seu Sem (ele perdeu braço direito ao acender um cigarro para a falecida dona Calibrina). Logo atrás, levando as alianças, nosso amigo Zeca Pebolim arrasava usando um meio-fraque cinza (alguns meninos inconseqüentes colocaram depois o pobre Pebolim em cima da geladeira da sacristia).
Após o sagrado sacramento, Solange e o noivo Rodovil seguiram para a lua-de-mel nas montanhas, mais propriamente no Morro Cambole, atração turística de Quissamanduca. Despediram-se dos convidados e seguiram para o chalé, carinhosamente denominado pela população como chulé.
Feliz por ter reencontrado meus amigos, eu já me preparava para retornar ao Rio quando Pedro me chamou para conversar, me comunicando o momento difícil que estava atravessando. Este, porém, é assunto para o próximo capítulo.
terça-feira, 25 de março de 2008
quinta-feira, 20 de março de 2008
Capítulo 12: Um herói humilde
Muitas vezes sou abordado na rua por fãs que me perguntam o que faço para manter o físico impecável. Claro que é necessária muita ginástica, mas uma alimentação adequada também é fundamental. Por isso, fiz um acordo com seu Vasco, dono da pensão onde moro, para que minhas refeições fossem balanceadas. Após um início um tanto quanto relutante, o português aceitou e, por um acréscimo de oitenta centavos por dia, passei a ter à disposição um cardápio diferenciado, com destaque para sexta-feira: angu, ovos cozidos e repolho.
Falando no meu prato favorito, uma iguaria conhecida em toda a região como Kriptonita, me recordei de um momento dramático, um dos mais difíceis que enfrentei até hoje, porém fundamental para ajudar a transformar minha história em uma lenda.
Depois de ter repetido quatro vezes a especialidade da pensão do Vasco, recebi um chamado para tentar encontrar uma pequena criança em Del Castilho. O pobre menininho se perdera dos pais e estava preso em uma casa abandonada, que para muitos era mal-assombrada. Imediatamente, parti para o local. Durante o trajeto, surgiu o primeiro indício de que algo terrível estaria por acontecer. Uma forte pontada um pouco abaixo do umbigo me fez refletir se não seria mais prudente um retorno estratégico a fim de descarregar o excesso de pressão. Minha responsabilidade de herói, no entanto, falou mais alto e resolvi seguir em frente.
Ao chegar no local, senti que minha elástica e justa roupa de Spider não tinha a aderência de costume. Percebi que transpirava muito e minha boca ressecara. E, para completar, um ensurdecedor som incomum parecia me acompanhar: sglooommmmb, sbluuunnnng, sblooonnng. Neste momento, admito que me desconcentrei um pouco e, por alguns segundos, pensei em outras coisas que, naquele instante, pareciam mais emergenciais, como um vaso sanitário.
Após uma rápida oração para São Juvêncio da Rolha, voltei a focar a missão. Com muito cuidado, entrei no recinto escuro à procura da criança, que deveria estar com fome e completamente apavorada. Com a visão totalmente prejudicada pela escuridão que assolava o velho casarão, fui caminhando lentamente, pois temia encontrar algum malfeitor ou até mesmo um monstro horrível, como um dragão (vi isso no primeiro filme do Shrek). Contraindo todos os músculos do meu corpo sarado (eu sentia um arrepio frio e intenso), seguia passo a passo, bem devagar, até que, de repente, o menino surgira do nada e: “Bu!!!”. A inesperada ação daquele filho da p, daquele menininho sapeca, provocou uma imediata reação da natureza, mais propriamente da minha natureza. Eu me recordo que a primeira sensação foi a de um peso absurdo na parte posterior da minha roupa, mais propriamente abaixo do quadril. Ainda aturdido com o que pressentia ter acontecido, confesso que perdi um pouco as rédeas da situação após o comentário que o inocente garoto fez: “Ih, tio, acho que você fez totô!”. Tomado de um rápido descontrole emocional, peguei o moleque pelo pescoço, mas o esforço despendido fez com que novo jato de dejetos deixasse as profundezas do meu ser e se alojasse nos reduzidíssimos espaços que restaram entre meu corpo e a justíssima roupa (que já passara a um tom levemente marrom).
Com as costas já cheias de merda, mas com minha tarefa concluída, que era encontrar o garoto (na realidade, foi ele quem me encontrou), faltava apenas colocá-lo em meus braços e deixar a casa, que imediatamente foi tomada por um cheiro indescritível. Ciente de que uma multidão aguardava a saída triunfal do Spider, achei de bom tom não me apresentar aos meus fãs da forma como me encontrava. Decidi, então, arremessar o menino por uma das janelas em direção ao povo, que se acotovelava em frente ao casarão, e, como um raio, saí pela parte dos fundos. No dia seguinte, os jornais de todo o planeta registraram mais um ato de bravura do Spider-Man, porém destacaram também a humildade do herói, que preferiu o anonimato às luzes do glamour e da fama.
Falando no meu prato favorito, uma iguaria conhecida em toda a região como Kriptonita, me recordei de um momento dramático, um dos mais difíceis que enfrentei até hoje, porém fundamental para ajudar a transformar minha história em uma lenda.
Depois de ter repetido quatro vezes a especialidade da pensão do Vasco, recebi um chamado para tentar encontrar uma pequena criança em Del Castilho. O pobre menininho se perdera dos pais e estava preso em uma casa abandonada, que para muitos era mal-assombrada. Imediatamente, parti para o local. Durante o trajeto, surgiu o primeiro indício de que algo terrível estaria por acontecer. Uma forte pontada um pouco abaixo do umbigo me fez refletir se não seria mais prudente um retorno estratégico a fim de descarregar o excesso de pressão. Minha responsabilidade de herói, no entanto, falou mais alto e resolvi seguir em frente.
Ao chegar no local, senti que minha elástica e justa roupa de Spider não tinha a aderência de costume. Percebi que transpirava muito e minha boca ressecara. E, para completar, um ensurdecedor som incomum parecia me acompanhar: sglooommmmb, sbluuunnnng, sblooonnng. Neste momento, admito que me desconcentrei um pouco e, por alguns segundos, pensei em outras coisas que, naquele instante, pareciam mais emergenciais, como um vaso sanitário.
Após uma rápida oração para São Juvêncio da Rolha, voltei a focar a missão. Com muito cuidado, entrei no recinto escuro à procura da criança, que deveria estar com fome e completamente apavorada. Com a visão totalmente prejudicada pela escuridão que assolava o velho casarão, fui caminhando lentamente, pois temia encontrar algum malfeitor ou até mesmo um monstro horrível, como um dragão (vi isso no primeiro filme do Shrek). Contraindo todos os músculos do meu corpo sarado (eu sentia um arrepio frio e intenso), seguia passo a passo, bem devagar, até que, de repente, o menino surgira do nada e: “Bu!!!”. A inesperada ação daquele filho da p, daquele menininho sapeca, provocou uma imediata reação da natureza, mais propriamente da minha natureza. Eu me recordo que a primeira sensação foi a de um peso absurdo na parte posterior da minha roupa, mais propriamente abaixo do quadril. Ainda aturdido com o que pressentia ter acontecido, confesso que perdi um pouco as rédeas da situação após o comentário que o inocente garoto fez: “Ih, tio, acho que você fez totô!”. Tomado de um rápido descontrole emocional, peguei o moleque pelo pescoço, mas o esforço despendido fez com que novo jato de dejetos deixasse as profundezas do meu ser e se alojasse nos reduzidíssimos espaços que restaram entre meu corpo e a justíssima roupa (que já passara a um tom levemente marrom).
Com as costas já cheias de merda, mas com minha tarefa concluída, que era encontrar o garoto (na realidade, foi ele quem me encontrou), faltava apenas colocá-lo em meus braços e deixar a casa, que imediatamente foi tomada por um cheiro indescritível. Ciente de que uma multidão aguardava a saída triunfal do Spider, achei de bom tom não me apresentar aos meus fãs da forma como me encontrava. Decidi, então, arremessar o menino por uma das janelas em direção ao povo, que se acotovelava em frente ao casarão, e, como um raio, saí pela parte dos fundos. No dia seguinte, os jornais de todo o planeta registraram mais um ato de bravura do Spider-Man, porém destacaram também a humildade do herói, que preferiu o anonimato às luzes do glamour e da fama.
terça-feira, 18 de março de 2008
Capítulo 11: “Ossos” do Ofício
Está sendo fantástica a experiência de registrar minhas memórias neste blog. O contato com vocês me permite mostrar a realidade da vida de um super-herói. Todo mundo pensa que é só glamour, mulheres bonitas e outros mimos produzidos pelas estórias contadas no cinema ou nas revistinhas em quadrinhos. Nada disso, é pauleira, mano! Para desempenhar com denodo a missão de salvar a humanidade, um super-herói de verdade tem de estar preparado para os percalços e as mazelas que a função exige.
Certa vez passeava pelo mercadão de Santa Cruz quando o celular tocou. Era uma voz feminina, aveludada, sedutora. Imediatamente, meu instinto de animal predador se fez presente. Do outro lado da linha, a moça implorava: “Preciso de você! Estou só, desprotegida e em perigo!”. Disparei em direção à cabine telefônica mais próxima a fim de colocar minha roupa de Spider. Entrei na primeira que avistei, mas tive de mudar de planos. Clark Kent chegara primeiro e colocava seu disfarce de Super-Homem. Aliás, quando abri a porta, meu amigo Clark estava só de sapato, meia e cueca samba-canção. Lamentável. Refeito do susto, consegui encontrar um terreno baldio, onde pude efetuar minha transformação.
Com o endereço anotado em um pedaço de guardanapo (quando ela ligou, eu estava comendo um x-tudo que comprara no Lanche Chelento, famoso point no bairro), segui em direção à casa da angelical moça. Ela disse que eu poderia chamá-la de Gi (como Gisele Bündchen) e revelou ter conseguido meu telefone por intermédio de um amigo comum que tínhamos no orkut (estamos todos na comunidade “Faço Bolinha com a Meleca”).
Chegando ao local, um prédio de três andares no agradável bairro de Belfort Roxo, avistei a janela do apartamento de Gi (como Giovanna Antonelli). Para que eu não me confundisse, ela me avisou que deixaria seu quarto à meia luz, com uma cortina para fora da janela. Decidido, mirei minhas teias para o teto do apê e invadi de forma triunfal aquele ninho de amor. Ao entrar, não avistei ninguém no quarto, mas logo em seguida ouvi a doce voz de Gi, quase em tom de súplica: “Fique à vontade, Spai (ele me chamou de Spai)! Estou indo!”. Fazendo um rápido reconhecimento no local, avistei uma cômoda com uns perfumes em cima, um lençol pendurado no cabideiro e uma enorme e convidativa cama que parecia me aguardar. Resolvi ceder aos apelos do clima que se instalou no recinto e deitei, limitando-me a fixar os olhos para a porta do quarto e aguardando a entrada de Gi. De repente, uma sombra foi surgindo na parede lateral do cômodo. E a sombra crescia, crescia, até chegar quase ao teto. Foi neste instante que Gi se fez presente, e, olhando-me bem no fundo dos meus olhos, sussurrou: “Cheguei!”. Não sei se conseguirei descrever os sentimentos vividos por mim naquele instante. Eram aproximadamente 200 quilos distribuídos em uma área de quase dois metros de altura e outros dois de profundidade. Gi, que na realidade se chamava Givanilda, vestia uma camisola vermelha e foi se aproximando até o cabideiro. Foi aí que percebi que o que estava pendurado no móvel não era um lençol, e sim um roupão. Inevitavelmente, me recordei da minha infância, quando uma vez quase foi atacado por uma vaca que se perdera da manada.
Voltando à realidade, tentei argumentar com Mimosa, quer dizer Givanilda, que aquilo tudo era um grande engano, que não estava acontecendo, mas foi em vão. Tomada de uma volúpia incontrolável, aquela criatura se jogou (eu disse se jogou) na minha direção. Utilizando uma técnica que aprendi com meu parceiro The Flash, saí literalmente como um raio da cama, que, insuficiente para suportar a carga que se aproximava (tal como o Titanic e o iceberg), cedeu, assim como o chão do quarto. Givanilda e sua cama foram parar no andar de baixo, caindo justamente em cima de um casal de velhinhos que ficaram “soterrados” sob os rebocos do teto, o que sobrou da cama e a possante Gi.
O estrondo provocado pelo acidente foi tanto, que os demais moradores deixaram desesperadamente o prédio. Aos gritos, as pessoas diziam que se tratava de um novo ataque da Al-Qaeda (os mais religiosos afirmavam ser o fim do mundo mesmo). Olhando pela cratera que se formou no quarto, só consegui ver Givanilda, de bruços, sobre o que sobrou da pobre cama e dos desafortunados velhinhos. Fazendo valer minha condição de super-herói, tive de entrar em ação. Minha primeira idéia para salvar o casal de idosos era implodir a gordona, mas até encontrar quantidade suficiente de dinamite para o serviço, morreriam sufocados. A defesa civil também estava descartada, porque demoraria a chegar. Então, não havia outro jeito, tive de entrar em ação. Com toda a minha força, segurei Gi pela parte traseira (não posso chamar aquilo de bumbum) e puxei, jogando o bruto para o lado. Nada tirará da minha lembrança os semblantes de alívio demonstrados por seu Agripino e dona Genoveva ao se sentirem livres. Felizmente, sem o peso daquele globo terrestre em cima, os velhinhos (com algumas seqüelas de caráter emocional) conseguiram sobreviver...e eu também.
Certa vez passeava pelo mercadão de Santa Cruz quando o celular tocou. Era uma voz feminina, aveludada, sedutora. Imediatamente, meu instinto de animal predador se fez presente. Do outro lado da linha, a moça implorava: “Preciso de você! Estou só, desprotegida e em perigo!”. Disparei em direção à cabine telefônica mais próxima a fim de colocar minha roupa de Spider. Entrei na primeira que avistei, mas tive de mudar de planos. Clark Kent chegara primeiro e colocava seu disfarce de Super-Homem. Aliás, quando abri a porta, meu amigo Clark estava só de sapato, meia e cueca samba-canção. Lamentável. Refeito do susto, consegui encontrar um terreno baldio, onde pude efetuar minha transformação.
Com o endereço anotado em um pedaço de guardanapo (quando ela ligou, eu estava comendo um x-tudo que comprara no Lanche Chelento, famoso point no bairro), segui em direção à casa da angelical moça. Ela disse que eu poderia chamá-la de Gi (como Gisele Bündchen) e revelou ter conseguido meu telefone por intermédio de um amigo comum que tínhamos no orkut (estamos todos na comunidade “Faço Bolinha com a Meleca”).
Chegando ao local, um prédio de três andares no agradável bairro de Belfort Roxo, avistei a janela do apartamento de Gi (como Giovanna Antonelli). Para que eu não me confundisse, ela me avisou que deixaria seu quarto à meia luz, com uma cortina para fora da janela. Decidido, mirei minhas teias para o teto do apê e invadi de forma triunfal aquele ninho de amor. Ao entrar, não avistei ninguém no quarto, mas logo em seguida ouvi a doce voz de Gi, quase em tom de súplica: “Fique à vontade, Spai (ele me chamou de Spai)! Estou indo!”. Fazendo um rápido reconhecimento no local, avistei uma cômoda com uns perfumes em cima, um lençol pendurado no cabideiro e uma enorme e convidativa cama que parecia me aguardar. Resolvi ceder aos apelos do clima que se instalou no recinto e deitei, limitando-me a fixar os olhos para a porta do quarto e aguardando a entrada de Gi. De repente, uma sombra foi surgindo na parede lateral do cômodo. E a sombra crescia, crescia, até chegar quase ao teto. Foi neste instante que Gi se fez presente, e, olhando-me bem no fundo dos meus olhos, sussurrou: “Cheguei!”. Não sei se conseguirei descrever os sentimentos vividos por mim naquele instante. Eram aproximadamente 200 quilos distribuídos em uma área de quase dois metros de altura e outros dois de profundidade. Gi, que na realidade se chamava Givanilda, vestia uma camisola vermelha e foi se aproximando até o cabideiro. Foi aí que percebi que o que estava pendurado no móvel não era um lençol, e sim um roupão. Inevitavelmente, me recordei da minha infância, quando uma vez quase foi atacado por uma vaca que se perdera da manada.
Voltando à realidade, tentei argumentar com Mimosa, quer dizer Givanilda, que aquilo tudo era um grande engano, que não estava acontecendo, mas foi em vão. Tomada de uma volúpia incontrolável, aquela criatura se jogou (eu disse se jogou) na minha direção. Utilizando uma técnica que aprendi com meu parceiro The Flash, saí literalmente como um raio da cama, que, insuficiente para suportar a carga que se aproximava (tal como o Titanic e o iceberg), cedeu, assim como o chão do quarto. Givanilda e sua cama foram parar no andar de baixo, caindo justamente em cima de um casal de velhinhos que ficaram “soterrados” sob os rebocos do teto, o que sobrou da cama e a possante Gi.
O estrondo provocado pelo acidente foi tanto, que os demais moradores deixaram desesperadamente o prédio. Aos gritos, as pessoas diziam que se tratava de um novo ataque da Al-Qaeda (os mais religiosos afirmavam ser o fim do mundo mesmo). Olhando pela cratera que se formou no quarto, só consegui ver Givanilda, de bruços, sobre o que sobrou da pobre cama e dos desafortunados velhinhos. Fazendo valer minha condição de super-herói, tive de entrar em ação. Minha primeira idéia para salvar o casal de idosos era implodir a gordona, mas até encontrar quantidade suficiente de dinamite para o serviço, morreriam sufocados. A defesa civil também estava descartada, porque demoraria a chegar. Então, não havia outro jeito, tive de entrar em ação. Com toda a minha força, segurei Gi pela parte traseira (não posso chamar aquilo de bumbum) e puxei, jogando o bruto para o lado. Nada tirará da minha lembrança os semblantes de alívio demonstrados por seu Agripino e dona Genoveva ao se sentirem livres. Felizmente, sem o peso daquele globo terrestre em cima, os velhinhos (com algumas seqüelas de caráter emocional) conseguiram sobreviver...e eu também.
segunda-feira, 17 de março de 2008
Ventania
Capítulo 10: Montes Tículos, a Morada da Sabedoria
Para que conheçam a fundo toda a saga do verdadeiro Spider-Man, é necessário que entendam antes os elementos que me tornaram este ser tão especial. Meu poder não se restringe somente à força, agilidade e ao charme irresistível. Tudo isso de nada adiantaria se não possuísse uma extraordinária capacidade intelectual e intuitiva, adquirida através de meus periódicos retiros espirituais em Montes Tículos, situados na região setentrional de Madagascar
Meus momentos de reflexão ocorrem no Convento dos Capuchinhos Alienígenas ou, em casos mais extremos, no pico mais alto dos Montes Tículos. É justamente para lá que sigo quando preciso me preparar para as missões mais árduas e perigosas.
Lembro-me bem de uma ocasião em que tive de tirar um mendigo chamado Ventania de dentro de um fusca velho (ele dormia no carro e, como as portas e os vidros emperraram, não conseguia sair, respirando por intermédio de um canudinho). O veículo (um modelo que deve ter sido produzido no ano 12, Antes de Cristo), era para ser branco, mas ficara verde de tanto lodo (a população carinhosamente chamava o carrinho de “Floresta da Tijuca”, em homenagem ao bairro da Zona Norte do Rio, ou “Grilomóvel”). O problema, entretanto, não era o resgate propriamente dito, e sim o que emanava de Ventania que, segundo informações de antigos moradores tijucanos, tomara seu último banho em meados dos anos 90.
Como tinha ciência de que a atividade que me esperava seria hercúlea, parti para um período de alguns dias de reclusão (o mendigo que segurasse a onda dele e aguardasse). Monge Nésio, autoridade máxima entre os Capuchinhos Alienígenas, me aconselhou a subir e fazer a meditação grau 10, considerada polimultiarquisuperhiper eficaz para casos como este. Inicialmente, tive de subir, durante três dias e três noites, o Pico Ledemanga, o mais alto e gélido de toda a região. Após chegar ao cume, precisei completar minha segunda tarefa: encontrar um montinho de urtiga e uma margarida (impressionante, apesar da temperatura havia vegetação no local). Conseguindo o objetivo, tive de tirar toda a roupa, sentar nu sobre o chumaço de urtiga e, sempre segurando com a mão direita a cândida flor, mentalizar o nome dos participantes de todas as edições do Big Brother Brasil. Após seis horas na mesma posição (a tarefa exigia somente 10 minutos, mas eu congelei e tive muitas dificuldades para me levantar), encerrei meu propósito e retornei à amada Cidade Maravilhosa, para salvar Ventania.
Sentindo-me imbatível (mas com a bunda em estado lamentável), me postei em frente à porta do carona e olhei para o interior do fusca. A imagem que visualizei era dramática: a expressão petrificada do mendigo, com o rosto colado ao vidro, nariz achatado e a boca aberta, deixando à mostra seus três dentes (um tinha só a metade). Revitalizado pelo meu período em Montes Tículos, me aproximei da lateral do carro verde e, fazendo-me valer de toda minha força, puxei a porta de uma só vez. Fui parar no outro quarteirão, pois a maçaneta estava podre e parti para uma rápida viagem de uns 300 metros (felizmente havia um caminhão de lixo que impediu que eu caísse na Baía de Guanabara). De volta, fui para o outro lado do veículo e, com muita destreza, dei uma porrada no vidro da porta do lado do motorista. Foi exatamente neste instante que todo o ar engarrafado há dias no interior daquele que um dia já foi um meio de transporte veio em minha direção, assim como Ventania que, desesperado, se pendurou no meu pescoço, me fazendo cair dentro do fusca. Se existe algo que eu pudesse comparar com aquele ambiente no automóvel, é um pântano repleto de carniça.
Aliás, não era somente Ventania que habitava aquele carro; havia um cachorro meio vermelho, meio marrom, meio verde (conseqüência do lodo e, certamente, do bafo e do chulé do mendigo), que atendia pelo nome de Lord. A expressão do cãozinho dava dó: o bicho tava magro, tinha uns dois ou três dentes a mais que Ventania e parecia assustado. Inclusive, ao me ver sendo puxado para dentro do fusca, Lord se desesperou e deixou escapar um punzinho que, somado ao cheiro inacreditável que insistia em permanecer no ambiente, me fez perder os sentidos por alguns instantes. Depois de uns segundos desacordado (tenho a nítida impressão de que vi Jesus), me recuperei e, com muito esforço, consegui segurar o lado externo da porta com o braço esquerdo e com o direito lançar o cachorro fedorento para fora. A partir daí éramos somente Ventania e eu. Sob os gritos do povo que, por causa do cheiro, queria que incinerassem o fusca (comigo dentro), me atraquei com o pinguço para poder sair do carro e não ser queimado vivo lá dentro. Confesso que estava com alguma dificuldade para me livrar daquela situação, até que, inadvertidamente, Ventania encaixou sua axila direita na minha cara, mais propriamente colada à minha região nasal. Com lágrimas nos olhos, retirei força do além (e de um pouco mais adiante) e consegui me atirar janela afora, juntamente com aquela criatura, que parecia estar em avançado estado de putrefação. Já sem a presença da multidão (que fugira por causa da catinga que embaçou Tijuca por uma semana) e impossibilitado de usar alguns de meus poderes de Spider (ao me atracar com o mendigo, minhas teias enrolaram e entupiram o buraquinho nos pulsos), me levantei do chão e, cambaleante (ainda sob o efeito do futum atômico), peguei o 489 (Tijuca-Santa Cruz), retornando para casa. Para me livrar do aroma que tomou conta do meu ser, antes de ir para meu aconchegante lar, fui à "Lavanderia Laudrolava Self-Service Você Mesmo", comprei logo cinco fichinhas e mergulhei na primeira máquina de lavar disponível para que esta difícil missão permanecesse somente na minha memória.
Meus momentos de reflexão ocorrem no Convento dos Capuchinhos Alienígenas ou, em casos mais extremos, no pico mais alto dos Montes Tículos. É justamente para lá que sigo quando preciso me preparar para as missões mais árduas e perigosas.
Lembro-me bem de uma ocasião em que tive de tirar um mendigo chamado Ventania de dentro de um fusca velho (ele dormia no carro e, como as portas e os vidros emperraram, não conseguia sair, respirando por intermédio de um canudinho). O veículo (um modelo que deve ter sido produzido no ano 12, Antes de Cristo), era para ser branco, mas ficara verde de tanto lodo (a população carinhosamente chamava o carrinho de “Floresta da Tijuca”, em homenagem ao bairro da Zona Norte do Rio, ou “Grilomóvel”). O problema, entretanto, não era o resgate propriamente dito, e sim o que emanava de Ventania que, segundo informações de antigos moradores tijucanos, tomara seu último banho em meados dos anos 90.
Como tinha ciência de que a atividade que me esperava seria hercúlea, parti para um período de alguns dias de reclusão (o mendigo que segurasse a onda dele e aguardasse). Monge Nésio, autoridade máxima entre os Capuchinhos Alienígenas, me aconselhou a subir e fazer a meditação grau 10, considerada polimultiarquisuperhiper eficaz para casos como este. Inicialmente, tive de subir, durante três dias e três noites, o Pico Ledemanga, o mais alto e gélido de toda a região. Após chegar ao cume, precisei completar minha segunda tarefa: encontrar um montinho de urtiga e uma margarida (impressionante, apesar da temperatura havia vegetação no local). Conseguindo o objetivo, tive de tirar toda a roupa, sentar nu sobre o chumaço de urtiga e, sempre segurando com a mão direita a cândida flor, mentalizar o nome dos participantes de todas as edições do Big Brother Brasil. Após seis horas na mesma posição (a tarefa exigia somente 10 minutos, mas eu congelei e tive muitas dificuldades para me levantar), encerrei meu propósito e retornei à amada Cidade Maravilhosa, para salvar Ventania.
Sentindo-me imbatível (mas com a bunda em estado lamentável), me postei em frente à porta do carona e olhei para o interior do fusca. A imagem que visualizei era dramática: a expressão petrificada do mendigo, com o rosto colado ao vidro, nariz achatado e a boca aberta, deixando à mostra seus três dentes (um tinha só a metade). Revitalizado pelo meu período em Montes Tículos, me aproximei da lateral do carro verde e, fazendo-me valer de toda minha força, puxei a porta de uma só vez. Fui parar no outro quarteirão, pois a maçaneta estava podre e parti para uma rápida viagem de uns 300 metros (felizmente havia um caminhão de lixo que impediu que eu caísse na Baía de Guanabara). De volta, fui para o outro lado do veículo e, com muita destreza, dei uma porrada no vidro da porta do lado do motorista. Foi exatamente neste instante que todo o ar engarrafado há dias no interior daquele que um dia já foi um meio de transporte veio em minha direção, assim como Ventania que, desesperado, se pendurou no meu pescoço, me fazendo cair dentro do fusca. Se existe algo que eu pudesse comparar com aquele ambiente no automóvel, é um pântano repleto de carniça.
Aliás, não era somente Ventania que habitava aquele carro; havia um cachorro meio vermelho, meio marrom, meio verde (conseqüência do lodo e, certamente, do bafo e do chulé do mendigo), que atendia pelo nome de Lord. A expressão do cãozinho dava dó: o bicho tava magro, tinha uns dois ou três dentes a mais que Ventania e parecia assustado. Inclusive, ao me ver sendo puxado para dentro do fusca, Lord se desesperou e deixou escapar um punzinho que, somado ao cheiro inacreditável que insistia em permanecer no ambiente, me fez perder os sentidos por alguns instantes. Depois de uns segundos desacordado (tenho a nítida impressão de que vi Jesus), me recuperei e, com muito esforço, consegui segurar o lado externo da porta com o braço esquerdo e com o direito lançar o cachorro fedorento para fora. A partir daí éramos somente Ventania e eu. Sob os gritos do povo que, por causa do cheiro, queria que incinerassem o fusca (comigo dentro), me atraquei com o pinguço para poder sair do carro e não ser queimado vivo lá dentro. Confesso que estava com alguma dificuldade para me livrar daquela situação, até que, inadvertidamente, Ventania encaixou sua axila direita na minha cara, mais propriamente colada à minha região nasal. Com lágrimas nos olhos, retirei força do além (e de um pouco mais adiante) e consegui me atirar janela afora, juntamente com aquela criatura, que parecia estar em avançado estado de putrefação. Já sem a presença da multidão (que fugira por causa da catinga que embaçou Tijuca por uma semana) e impossibilitado de usar alguns de meus poderes de Spider (ao me atracar com o mendigo, minhas teias enrolaram e entupiram o buraquinho nos pulsos), me levantei do chão e, cambaleante (ainda sob o efeito do futum atômico), peguei o 489 (Tijuca-Santa Cruz), retornando para casa. Para me livrar do aroma que tomou conta do meu ser, antes de ir para meu aconchegante lar, fui à "Lavanderia Laudrolava Self-Service Você Mesmo", comprei logo cinco fichinhas e mergulhei na primeira máquina de lavar disponível para que esta difícil missão permanecesse somente na minha memória.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Capítulo 9: Festa de Arromba
Ainda com areia nos ouvidos, demorei uns 20 dias pra me recuperar do caldo homérico que levei em meu primeiro contato com a praia no Rio de Janeiro. Mas com o passar do tempo, já estava me familiarizado com os encantos e as novidades da Cidade Maravilhosa. Ainda não tinha usado minha roupa de Spider e, controlando a ansiedade, aguardei o momento certo para estreá-la. Até que em uma noite de maio, decidi que chegara o grande dia.
Coloquei me disfarce e, disparando minhas teias, segui de prédio em prédio, sempre atento a algum ato criminoso ou pedido de socorro de alguma alma indefesa. Então, quando passava por uma vila, escutei gritos histéricos que partiam de uma das casas. À medida que me aproximava do local, mais intensos ficavam os sons, que pareciam emitidos por senhoras idosas. Como um relâmpago, entrei pela janela, estilhaçando os vidros, e caí de costas no chão da sala. De repente, me deparei com umas 20 velhinhas que me olhavam com fisionomias assustadas. Em fração de segundo, as expressões passaram a ser de euforia e os gritos retornaram, agora ainda mais histéricos. Um delas berrou: “O presente chegou! O presente chegou!”. Sem entender nada, me levantei e, quando me preparava para perguntar se estavam todas bem, levei uma gravata que me derrubou novamente. Logo em seguida, quase todas as velhas pularam em cima de mim e começaram a tentar tirar minha roupa. Nesse momento, apesar da confusão de braços e pernas em cima de mim, consegui ouvir uma deles dizer: “Vai ter clube das mulheres!”. Foi exatamente neste instante que percebi a dramaticidade. Aquele grupo de senhoras ensandecidas (a mais novinha devia ter uns 75 anos) imaginava que eu era um streeper e daria um show pra elas como presente ao centenário de uma delas.
Tentando me proteger como dava (heroicamente consegui evitar que aqueles taradas arrancassem minha sunga), busquei uma brecha pra escapar daquele grupo alucinado). De repente, percebi que a velhinha aniversariante havia pego o meu pé direito começou a morder o dedão. Meu Deus, o contato da gengiva (não havia um dente sequer na boca daquela pessoa) com a pele do meu dedo me fez entrar numa crise de riso incontrolável. Eu tentava me livrar, mas aquela boca cheia de baba não tirava meu dedão de dentro. Até que, com a ajuda divina, consegui, com o outro pé, acertar a cara da anciã insaciável, que foi parar na varanda da casa. Aproveitando a ligeira distração das demais que foram acudir a companheira, me levantei todo rasgado e varei a janela já sem vidros devido à minha entrada triunfal.
Com o relato deste episódio, fiz questão apenas de registrar o quanto foi difícil para que eu me adaptasse às rotinas de uma cidade grande, bem diferentes do cotidiano pacato da minha querida Quissamanduca.
Coloquei me disfarce e, disparando minhas teias, segui de prédio em prédio, sempre atento a algum ato criminoso ou pedido de socorro de alguma alma indefesa. Então, quando passava por uma vila, escutei gritos histéricos que partiam de uma das casas. À medida que me aproximava do local, mais intensos ficavam os sons, que pareciam emitidos por senhoras idosas. Como um relâmpago, entrei pela janela, estilhaçando os vidros, e caí de costas no chão da sala. De repente, me deparei com umas 20 velhinhas que me olhavam com fisionomias assustadas. Em fração de segundo, as expressões passaram a ser de euforia e os gritos retornaram, agora ainda mais histéricos. Um delas berrou: “O presente chegou! O presente chegou!”. Sem entender nada, me levantei e, quando me preparava para perguntar se estavam todas bem, levei uma gravata que me derrubou novamente. Logo em seguida, quase todas as velhas pularam em cima de mim e começaram a tentar tirar minha roupa. Nesse momento, apesar da confusão de braços e pernas em cima de mim, consegui ouvir uma deles dizer: “Vai ter clube das mulheres!”. Foi exatamente neste instante que percebi a dramaticidade. Aquele grupo de senhoras ensandecidas (a mais novinha devia ter uns 75 anos) imaginava que eu era um streeper e daria um show pra elas como presente ao centenário de uma delas.
Tentando me proteger como dava (heroicamente consegui evitar que aqueles taradas arrancassem minha sunga), busquei uma brecha pra escapar daquele grupo alucinado). De repente, percebi que a velhinha aniversariante havia pego o meu pé direito começou a morder o dedão. Meu Deus, o contato da gengiva (não havia um dente sequer na boca daquela pessoa) com a pele do meu dedo me fez entrar numa crise de riso incontrolável. Eu tentava me livrar, mas aquela boca cheia de baba não tirava meu dedão de dentro. Até que, com a ajuda divina, consegui, com o outro pé, acertar a cara da anciã insaciável, que foi parar na varanda da casa. Aproveitando a ligeira distração das demais que foram acudir a companheira, me levantei todo rasgado e varei a janela já sem vidros devido à minha entrada triunfal.
Com o relato deste episódio, fiz questão apenas de registrar o quanto foi difícil para que eu me adaptasse às rotinas de uma cidade grande, bem diferentes do cotidiano pacato da minha querida Quissamanduca.
terça-feira, 11 de março de 2008
Troféu Cigano Igor (Claudio Heinrich)
Poucas vezes se viu aptidão tão grande na teledramaturgia mundial. Com início fulgurante como paquito (função de absoluta relevância para o sucesso dos programas de Xuxa, a Rainha dos Baixinhos), Cláudio Heinrich foi responsável pela popularização de personagens inesquecíveis como o..., aquele outro e também o...A dicção perfeita e o olhar penetrante são suas marcas registradas. A emoção que transmite com suas interpretações também merece louvor e o referendou ao tão desejado prêmio
Capítulo 8: Como uma Onda no Mar
Minha primeira residência em terras cariocas foi em um bairro muito agradável chamado Santa Cruz, cujo clima é muito semelhante ao da Namíbia, na África. As temperaturas variavam entre 35 graus (no inverno) a 68 (no verão). Eu dividia uma quitinete com outras seis pessoas, o que tornava as condições climáticas do ambiente muito próximas das que devem ser encontradas no inferno (houve uma noite tão insuportável de quente que realmente acreditei ter visto o capeta).
Em uma conversa informal com algumas pessoas muito simpáticas que conheci em um local onde eu almoçava todos os dias, o Sopão Feliz, decidi conhecer a Zona Sul, principalmente algumas de suas praias tão conhecidas. Como a única sunga que tinha era a do Spider (evidente que aquela que parecia um chaveiro eu dei pro Pebolim, que ainda reclamou de estar apertada), coloquei meu short preferido (era um que tinha várias imagens do Pateta), uma camiseta regata que ganhei numa promoção das Casas do Pano (a mais famosa butique de Quissamanduca), calcei meus chinelos e parti rumo ao Leblon, um dos locais mais chiques da cidade.
Como eu ainda não conhecia o Rio direito, tive alguma dificuldade para chegar ao famoso bairro. Depois de pegar 12 ônibus, porém, finalmente ao meio-dia estava no Leblon (previdente, saí de casa às 4 da manhã). Encantado com as lindas mulheres que desfilavam na areia quente (acabei de me lembrar da melhor banda de rock’n roll dos anos 80), procurei encontrar uma cantinho para que pudesse sentar e apreciar as riquezas oferecidas pela mãe natureza..
Absolutamente hipnotizado com a imensidão do azul do mar (salve Tim!), eu olhava aquela calmaria quase celeste e me recordava dos alegres banhos no lago de Quissamanduca (eu saía da água todo verde e sebento por causa do lodo). Uma lágrima solitária de saudosismo escorria do canto de meu olho direito quando avistei um menino se afogando. Com meu instinto de super-herói destemido, levantei-me rapidamente e parti correndo em direção daquele pobre indefeso. Ao entrar como um raio na água, tropecei e bati com os córneos no raso. Prontamente, porém cheio de areia na boca e no nariz, me recuperei e segui para minha missão. Estava dando pé, o que facilitou um pouco minha tarefa. Consegui pegar o garoto e ficamos em um banco de areia (um local bem rasinho que fica entre a beira e a arrebentação das ondas). Foi aí que ocorreu um pequeno percalço, que tornou meu salvamento dramático. Eu conversava com o menino e me preparava para levá-lo de volta à beira quando senti algo se aproximando de mim. Virei lentamente para trás e, por conseqüência, para o alto, porque a onda que já se encontrava a um metro de mim parecia um prédio de seis andares. Em um instinto super-heróico, peguei o garotinho pra protegê-lo e senti aquele impacto, que varreu tudo que tinha pela frente. Neste exato momento, tive a exata noção de como se sente uma calça jeans dentro de uma máquina de lavar. Eu rodava e virava numa viagem alucinante. Em um determinado momento, consegui olhar para frente e o que avistei aumentou ainda mais o meu tormento: justamente na minha direção, uma senhora, que devia pesar algo próximo dos 200 quilos, se banhava inadvertidamente com um baldinho. Com uma velocidade espantosa, aquela onda sinistra me projetou (não me perguntem como, mas eu conseguia segurar uma das mãos do moleque) em direção à parte traseira do mamute, perdão, da moça que pegava água com o singelo balde amarelo. A visão daquela imagem me fez, por alguns parcos segundos, repensar a vida. Ciente do impacto inevitável, apenas pedia a Deus que tivesse piedade de minha alma. Como se eu fosse uma bala de canhão, meu rosto foi direto de encontro à busanfa gigante da velha. Numa reação de puro reflexo, agarrei aquela montanha de carne e fomos todos juntos (eu, o moleque e a gordona) em direção à beira. Já sem a força de antes, a onda apenas nos largou na areia, mas as conseqüências foram dramáticas. Como uma baleia encalhada, a senhora era reanimada por algumas das centenas de banhistas que presenciaram a cena; o menino foi resgatado de um buraco de uns dez metros de profundidade; e eu, de bruços e com o short do pateta na canela, demorei cerca de cinco minutos pra conseguir lembrar o meu nome.
Em uma conversa informal com algumas pessoas muito simpáticas que conheci em um local onde eu almoçava todos os dias, o Sopão Feliz, decidi conhecer a Zona Sul, principalmente algumas de suas praias tão conhecidas. Como a única sunga que tinha era a do Spider (evidente que aquela que parecia um chaveiro eu dei pro Pebolim, que ainda reclamou de estar apertada), coloquei meu short preferido (era um que tinha várias imagens do Pateta), uma camiseta regata que ganhei numa promoção das Casas do Pano (a mais famosa butique de Quissamanduca), calcei meus chinelos e parti rumo ao Leblon, um dos locais mais chiques da cidade.
Como eu ainda não conhecia o Rio direito, tive alguma dificuldade para chegar ao famoso bairro. Depois de pegar 12 ônibus, porém, finalmente ao meio-dia estava no Leblon (previdente, saí de casa às 4 da manhã). Encantado com as lindas mulheres que desfilavam na areia quente (acabei de me lembrar da melhor banda de rock’n roll dos anos 80), procurei encontrar uma cantinho para que pudesse sentar e apreciar as riquezas oferecidas pela mãe natureza..
Absolutamente hipnotizado com a imensidão do azul do mar (salve Tim!), eu olhava aquela calmaria quase celeste e me recordava dos alegres banhos no lago de Quissamanduca (eu saía da água todo verde e sebento por causa do lodo). Uma lágrima solitária de saudosismo escorria do canto de meu olho direito quando avistei um menino se afogando. Com meu instinto de super-herói destemido, levantei-me rapidamente e parti correndo em direção daquele pobre indefeso. Ao entrar como um raio na água, tropecei e bati com os córneos no raso. Prontamente, porém cheio de areia na boca e no nariz, me recuperei e segui para minha missão. Estava dando pé, o que facilitou um pouco minha tarefa. Consegui pegar o garoto e ficamos em um banco de areia (um local bem rasinho que fica entre a beira e a arrebentação das ondas). Foi aí que ocorreu um pequeno percalço, que tornou meu salvamento dramático. Eu conversava com o menino e me preparava para levá-lo de volta à beira quando senti algo se aproximando de mim. Virei lentamente para trás e, por conseqüência, para o alto, porque a onda que já se encontrava a um metro de mim parecia um prédio de seis andares. Em um instinto super-heróico, peguei o garotinho pra protegê-lo e senti aquele impacto, que varreu tudo que tinha pela frente. Neste exato momento, tive a exata noção de como se sente uma calça jeans dentro de uma máquina de lavar. Eu rodava e virava numa viagem alucinante. Em um determinado momento, consegui olhar para frente e o que avistei aumentou ainda mais o meu tormento: justamente na minha direção, uma senhora, que devia pesar algo próximo dos 200 quilos, se banhava inadvertidamente com um baldinho. Com uma velocidade espantosa, aquela onda sinistra me projetou (não me perguntem como, mas eu conseguia segurar uma das mãos do moleque) em direção à parte traseira do mamute, perdão, da moça que pegava água com o singelo balde amarelo. A visão daquela imagem me fez, por alguns parcos segundos, repensar a vida. Ciente do impacto inevitável, apenas pedia a Deus que tivesse piedade de minha alma. Como se eu fosse uma bala de canhão, meu rosto foi direto de encontro à busanfa gigante da velha. Numa reação de puro reflexo, agarrei aquela montanha de carne e fomos todos juntos (eu, o moleque e a gordona) em direção à beira. Já sem a força de antes, a onda apenas nos largou na areia, mas as conseqüências foram dramáticas. Como uma baleia encalhada, a senhora era reanimada por algumas das centenas de banhistas que presenciaram a cena; o menino foi resgatado de um buraco de uns dez metros de profundidade; e eu, de bruços e com o short do pateta na canela, demorei cerca de cinco minutos pra conseguir lembrar o meu nome.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Capítulo 7: De Quissamanduca para o Mundo
Após algumas perigosas missões (tirei o gato do Frei Natanael do teto da igreja, matei três baratas cascudas na casa de dona Emerenciana e ajudei seu Manel da padaria, que foi aparar o pé de couve que ficava à beira do morro e despencou ribanceira abaixo), vi que Quissamanduca era pequena demais para mim, e decidi buscar novos ares, tentando a sorte no Rio de Janeiro.
Comuniquei à minha família e a meus amigos sobre a decisão e eles resolveram promover uma festa de despedida para mim. Foi emocionante, porque toda a cidade resolveu participar. As moças levaram os quitutes e os homens se encarregaram das bebidas. As barraquinhas foram armadas na Praça Apolônio III e toda a população esteve presente.
O evento mereceu, inclusive, a participação da banda da cidade, formada por Agripino Jiló na corneta, Sebastião Tião no triângulo, Clementino Jibóia (irmão de Cipó) no chocalho e Zeca Pebolim na zabumba. Liderada pelo maestro Isaac Caramujevski (na realidade, se chamava João Fulgêncio e nasceu no Ceará, onde catava caramujos), a banda era eclética e tocava de Odair José a Iron Maiden. Ah, já ia me esquecendo do Wilbor, que era fera no xilofone (aquele brinquedinho que a gente bate nas teclas com uma baquetinha). Wilbor parecia o Nhonho, só que bem mais gordo que o personagem do seriado Chaves. O bicho comia muito e estava se acabando na festa. Depois de engolir mais de 40 ovos cozidos (daqueles rosas), 18 pratos de angu e tomar mais de 20 canecas de sopa de ervilha, Wilbor começou a mudar de cor. Totalmente esverdeado e com a barriga três vezes maior do que a normal (que já era um escândalo), o garoto parecia que iria explodir. E explodiu. Um dos botões de sua camisa (justamente o que ficava próximo ao umbigo) arrebentou e, com uma velocidade descomunal, foi direto na testa de dona Emerenciana que, sentada no poço da pracinha, caiu no buraco de uns 15 metros de profundidade. O resgate da velha, aliás, foi o último ato do Spider em Quissamanduca.
Com a presença de todos os meus amigos e familiares na rodoviária, peguei o ônibus rumo à Cidade Maravilhosa. Como a viatura (essa é a expressão mais apropriada para definir aquilo) passava antes em Pororoca do Oeste, Barro Sujo, Santa Rita da Casa do Carvalho e Cajuzinho do Norte, já chegava lotada em Quissa. O ônibus (é duro me referir àquilo dessa forma), que tinha capacidade para 45 passageiros, contava com 97. Estava tão cheio, que todos tinham de respirar e expirar juntos, pra que o ar pudesse ser compartilhado democraticamente. Por falar em respirar, esta tarefa foi especialmente penosa pra mim. O único espaço que consegui me encaixar foi ao lado de um cara que não devia saber o que é um banho há uns três meses. Para piorar a situação, meu nariz ficava justamente alojado na axila esquerda daquela criatura. Inclusive, foi durante esta viagem que entendi porque aquela parte do corpo humano é popularmente chamada de SUVACO. Mesmo depois de tantos anos, ainda sinto às vezes um gosto ácido na boca e tenho a impressão de ter um cabelo preso debaixo da língua.
Mas e epopéia terminou. Após oito dias de viagem, finalmente cheguei ao Rio, que adotei como meu lar, e de onde projetaria a saga do Spider-Man para todo o planeta. E, logo em meu primeiro dia na cidade, pude perceber os perigos reservados àqueles pouco acostumados a um dos mais belos cartões postais das terras cariocas: as praias. Mas isso é assunto para o próximo capítulo.
Comuniquei à minha família e a meus amigos sobre a decisão e eles resolveram promover uma festa de despedida para mim. Foi emocionante, porque toda a cidade resolveu participar. As moças levaram os quitutes e os homens se encarregaram das bebidas. As barraquinhas foram armadas na Praça Apolônio III e toda a população esteve presente.
O evento mereceu, inclusive, a participação da banda da cidade, formada por Agripino Jiló na corneta, Sebastião Tião no triângulo, Clementino Jibóia (irmão de Cipó) no chocalho e Zeca Pebolim na zabumba. Liderada pelo maestro Isaac Caramujevski (na realidade, se chamava João Fulgêncio e nasceu no Ceará, onde catava caramujos), a banda era eclética e tocava de Odair José a Iron Maiden. Ah, já ia me esquecendo do Wilbor, que era fera no xilofone (aquele brinquedinho que a gente bate nas teclas com uma baquetinha). Wilbor parecia o Nhonho, só que bem mais gordo que o personagem do seriado Chaves. O bicho comia muito e estava se acabando na festa. Depois de engolir mais de 40 ovos cozidos (daqueles rosas), 18 pratos de angu e tomar mais de 20 canecas de sopa de ervilha, Wilbor começou a mudar de cor. Totalmente esverdeado e com a barriga três vezes maior do que a normal (que já era um escândalo), o garoto parecia que iria explodir. E explodiu. Um dos botões de sua camisa (justamente o que ficava próximo ao umbigo) arrebentou e, com uma velocidade descomunal, foi direto na testa de dona Emerenciana que, sentada no poço da pracinha, caiu no buraco de uns 15 metros de profundidade. O resgate da velha, aliás, foi o último ato do Spider em Quissamanduca.
Com a presença de todos os meus amigos e familiares na rodoviária, peguei o ônibus rumo à Cidade Maravilhosa. Como a viatura (essa é a expressão mais apropriada para definir aquilo) passava antes em Pororoca do Oeste, Barro Sujo, Santa Rita da Casa do Carvalho e Cajuzinho do Norte, já chegava lotada em Quissa. O ônibus (é duro me referir àquilo dessa forma), que tinha capacidade para 45 passageiros, contava com 97. Estava tão cheio, que todos tinham de respirar e expirar juntos, pra que o ar pudesse ser compartilhado democraticamente. Por falar em respirar, esta tarefa foi especialmente penosa pra mim. O único espaço que consegui me encaixar foi ao lado de um cara que não devia saber o que é um banho há uns três meses. Para piorar a situação, meu nariz ficava justamente alojado na axila esquerda daquela criatura. Inclusive, foi durante esta viagem que entendi porque aquela parte do corpo humano é popularmente chamada de SUVACO. Mesmo depois de tantos anos, ainda sinto às vezes um gosto ácido na boca e tenho a impressão de ter um cabelo preso debaixo da língua.
Mas e epopéia terminou. Após oito dias de viagem, finalmente cheguei ao Rio, que adotei como meu lar, e de onde projetaria a saga do Spider-Man para todo o planeta. E, logo em meu primeiro dia na cidade, pude perceber os perigos reservados àqueles pouco acostumados a um dos mais belos cartões postais das terras cariocas: as praias. Mas isso é assunto para o próximo capítulo.
sexta-feira, 7 de março de 2008
Capítulo 6: A Origem da Mítica Roupa do Spider-Man
Sei que uma dúvida deve estar atormentando há dias os milhões que acompanham a verdadeira história do Spider-Man, que eu, humildemente, decidi revelar neste blog. Aliás, um sucesso tão retumbante, que Bill Gates resolveu criar a “Internet II, A missão”, só para comportar todos os acessos dos internautas espalhados pelo planeta (recebi um e-mail da NASA informando que foi feito um contato de Júpter na tentativa de acessar o Spiderbrog). A pergunta é: como surgiu a tão famosa roupa do Spider? A história é longa, e tentarei resumir neste capítulo.
Depois de resgatar a explosiva pinguça da árvore, comecei a ajudar aqueles que estavam em apuros e percebi o quanto me sentia bem com isso. Mas eu era muito tímido, e não queria divulgação em cima de mim. Então, vi que precisava de um disfarce. Além do mais, eu me achava meio ridículo indo para as minhas missões descalço, sem camisa e com um short Sadidas (a grana que eu guardava em casa não me permitia comprar um Adidas, então tinha de ser o genérico). Para completar o drama, estava furado e sem elástico, e não ficava bem estar no meio de um salvamento e meu short cair.
Decidido a ocultar minha identidade secreta, vi que tinha de usar uma roupa que não me revelasse para o mundo. Foi aí que lembrei que Quissamanduca tinha uma costureira, responsável por confeccionar as roupas dos dois funcionários da pastelaria de Xin-Cu-Pow, dos dez policiais da cidade e os trajes religiosos de Frei Natanael: dona Maria Camões, uma senhorinha muito prestativa, que era tia de Duduzinho Pirata. Assim como o sobrinho, ela não enxergava com o olho direito e também era míope, quer dizer bem mais míope. Eram 32 graus que faziam com que ela tivesse alguma dificuldade para executar com perfeição algumas tarefas (tadinha, quando terminava de ler um jornal, ficava com a ponta do nariz toda preta da tinta das letras), como cortar os tecidos. Lembro de um dia que ela tirou tanto pano da parte de trás primeira batina de Frei Natanael, que ele rezou a primeira missa com a bunda de fora.
Mas as mãos de dona Camões eram incríveis, além de inventivas. Fui até ela e pedi que criasse um modelito pra mim. Eu queria alguma coisa que lembrasse uma aranha, algo bem maneiro, mas a doce velhinha me disse que faria uma surpresa, pois eu era o melhor amigo do seu sobrinho e merecia algo especial, diferente. Depois de seis meses sendo cuidadosamente preparada, a roupa estava pronta. Ao receber a encomenda, confesso que me decepcionei um pouco. Abri a caixa e fui tirando as peças, uma a uma: a máscara parecia a do Zorro, uma capa que tinha uma barata estampada (além de cega, dona Maria Camões sofria de amnésia múltipla polidesinterítica aguda), uma camisa de lycra com a mesma barata no peito, uma bota estilo Xuxa (pra dar um ar másculo, tinha uma espora em cada pé) e uma sunga. Bom, a sunga era um caso à parte. Afetada pela amnésia múltipla polidesinterítica aguda (só pode ter sido isso), a velha fez uma sunga na medida pro Zeca Pebolim, o anãozinho da cidade. Vesti aquela parafernália toda e fui me “apreciar” no espelho do banheiro. Depois de alguns minutos paralisado com a figura patética que se projetava à minha frente, decidi que não havia a menor condição de eu usar aquilo. A decisão ganhou ainda mais força quando fui andar em direção ao espelho. No primeiro passo que dei para frente, meu saco escapou pelo canto direito da sunga mínima. Lamentável.
Visto que não teria outra alternativa, peguei minha bicicleta (como eu não sabia andar direito, ela ainda tinha aquelas duas rodinhas laterais) e parti para Cajuzinho do Norte a fim de comprar minha tão sonhada roupa de Homem-Aranha. Fui ao banco, o Bicano, e saquei uma grana (tudo que ganhava no malabarismo eu depositava lá). Sabia que em Cajuzinho do Norte tinha um estilista, uma bichona que era o costureiro oficial da primeira dama da cidade (a socialite Marilu Topete, esposa do prefeito Cornildo Manso). Clodovaldo era mesmo um artista, e em três dias deixou tudo pronto. Por ter morado cinco anos nos EUA, onde trabalhava como copeiro na casa do famoso costureiro francês Michael Dechaqueodo (a sílaba forte é a última), começou a me chamar de Spider, meu Spider. Não gostei muito daquilo, mas achei que Spider soaria melhor que Aranha. E já devidamente uniformizado, passei a adotar o Spider-Man como minha segunda identidade, iniciando, de forma completa, a saga do adorado super-herói.
Depois de resgatar a explosiva pinguça da árvore, comecei a ajudar aqueles que estavam em apuros e percebi o quanto me sentia bem com isso. Mas eu era muito tímido, e não queria divulgação em cima de mim. Então, vi que precisava de um disfarce. Além do mais, eu me achava meio ridículo indo para as minhas missões descalço, sem camisa e com um short Sadidas (a grana que eu guardava em casa não me permitia comprar um Adidas, então tinha de ser o genérico). Para completar o drama, estava furado e sem elástico, e não ficava bem estar no meio de um salvamento e meu short cair.
Decidido a ocultar minha identidade secreta, vi que tinha de usar uma roupa que não me revelasse para o mundo. Foi aí que lembrei que Quissamanduca tinha uma costureira, responsável por confeccionar as roupas dos dois funcionários da pastelaria de Xin-Cu-Pow, dos dez policiais da cidade e os trajes religiosos de Frei Natanael: dona Maria Camões, uma senhorinha muito prestativa, que era tia de Duduzinho Pirata. Assim como o sobrinho, ela não enxergava com o olho direito e também era míope, quer dizer bem mais míope. Eram 32 graus que faziam com que ela tivesse alguma dificuldade para executar com perfeição algumas tarefas (tadinha, quando terminava de ler um jornal, ficava com a ponta do nariz toda preta da tinta das letras), como cortar os tecidos. Lembro de um dia que ela tirou tanto pano da parte de trás primeira batina de Frei Natanael, que ele rezou a primeira missa com a bunda de fora.
Mas as mãos de dona Camões eram incríveis, além de inventivas. Fui até ela e pedi que criasse um modelito pra mim. Eu queria alguma coisa que lembrasse uma aranha, algo bem maneiro, mas a doce velhinha me disse que faria uma surpresa, pois eu era o melhor amigo do seu sobrinho e merecia algo especial, diferente. Depois de seis meses sendo cuidadosamente preparada, a roupa estava pronta. Ao receber a encomenda, confesso que me decepcionei um pouco. Abri a caixa e fui tirando as peças, uma a uma: a máscara parecia a do Zorro, uma capa que tinha uma barata estampada (além de cega, dona Maria Camões sofria de amnésia múltipla polidesinterítica aguda), uma camisa de lycra com a mesma barata no peito, uma bota estilo Xuxa (pra dar um ar másculo, tinha uma espora em cada pé) e uma sunga. Bom, a sunga era um caso à parte. Afetada pela amnésia múltipla polidesinterítica aguda (só pode ter sido isso), a velha fez uma sunga na medida pro Zeca Pebolim, o anãozinho da cidade. Vesti aquela parafernália toda e fui me “apreciar” no espelho do banheiro. Depois de alguns minutos paralisado com a figura patética que se projetava à minha frente, decidi que não havia a menor condição de eu usar aquilo. A decisão ganhou ainda mais força quando fui andar em direção ao espelho. No primeiro passo que dei para frente, meu saco escapou pelo canto direito da sunga mínima. Lamentável.
Visto que não teria outra alternativa, peguei minha bicicleta (como eu não sabia andar direito, ela ainda tinha aquelas duas rodinhas laterais) e parti para Cajuzinho do Norte a fim de comprar minha tão sonhada roupa de Homem-Aranha. Fui ao banco, o Bicano, e saquei uma grana (tudo que ganhava no malabarismo eu depositava lá). Sabia que em Cajuzinho do Norte tinha um estilista, uma bichona que era o costureiro oficial da primeira dama da cidade (a socialite Marilu Topete, esposa do prefeito Cornildo Manso). Clodovaldo era mesmo um artista, e em três dias deixou tudo pronto. Por ter morado cinco anos nos EUA, onde trabalhava como copeiro na casa do famoso costureiro francês Michael Dechaqueodo (a sílaba forte é a última), começou a me chamar de Spider, meu Spider. Não gostei muito daquilo, mas achei que Spider soaria melhor que Aranha. E já devidamente uniformizado, passei a adotar o Spider-Man como minha segunda identidade, iniciando, de forma completa, a saga do adorado super-herói.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Capítulo 5: Dara, A Primeira Paixão
Quissamanduca era uma cidade pequena e de população reduzida. Das poucas meninas que lá viviam, pouquíssimas eram apreciáveis. A irmã do Pedro era até bonitinha, mas era difícil encarar o buço que ela fazia questão de deixar impecável. Além do mais, Hitler (era assim como nós a chamávamos) tinha namorado, o filho do coronel Cipriano, o maior fazendeiro da região. O velho era mal, pegava um, pegava geral. Dizem até que ele matou a sogra a enxadadas só porque a pobre senhora errou na dose e colocou uma colher a menos de sal na comida.
As opções femininas, portanto, eram poucas. Duduzinho Pirata, que além de não enxergar com um dos olhos era míope do outro, era o único que de vez em quando arrumava alguma coisa. Mas, como a visão não era propriamente um sentido confiável, virava e mexia aparecia com alguma aberração.
Sendo assim, tínhamos que encontrar na criatividade a aliada para nossa iniciação sexual. Ah, já ia me esquecendo, a cidade tinha uma moça da vida, a Soledade, que deve ter chegado a Quissa nos anos 20, antes de Cristo. Ou seja, não havia opção.
O tempo foi passando e a secura aumentando. Até que um dia, caminhando pela estrada, avistei uma coisinha muito linda e jeitosa. Ela estava sozinha, e parecia perdida. Ao me deparar com aquele serzinho indefeso, me apaixonei no ato. Na hora, nem me preocupei como meus pais iriam reagir quando me vissem chegar em casa com uma cabra.
Os primeiros dias de namoro com Dara (resolvi dar esse nome à cabrinha em homenagem ao Cigano Igor, ídolo de toda uma geração, que era apaixonado por uma cigana chamada Dara) foram de muito romance, mas poucos contatos íntimos. Até que o amor falou mais alto e permitiu o grande momento da consumação. O desejo era forte, de ambos os lados. A noite estava linda, ensolarada, e escolhi um lugar bem romântico e aconchegante para despejar todo o meu vigor juvenil sobre Dara, que me olhava com aquele olhar pidão, sedenta de luxúria. Fomos para trás de uma moita, muito utilizada em alguns momentos de aperto (às vezes, eu tinha uma crise intestinal que era tiro e, literalmente, queda). Foram horas de loucura e, impregnado com o perfume da minha amada, retornei mais apaixonado do que nunca para o meu lar.
Nossa relação, sempre alicerçada por muito diálogo, parecia eterna. Mas um dia (sempre que me lembro dá vontade de chorar) ao acordar, virei-me para acarinhar minha amada e ela não estava a meu lado. Meu coração bateu mais forte, e pressenti que algo terrível teria acontecido. E, para meu desespero, meus sentimentos estavam corretos. Dara havia me deixado, sem sequer deixar um bilhete. A dor foi ainda mais aguda quando, uma semana depois, eu a vi, num amasso indecente com Ludovico, o jegue de Floriano Milhar, único bicheiro de Quissamanduca. E, desta forma, me sentindo traído e humilhado, tirei definitivamente aquela vadia da minha vida. Com a ajuda dos meus amigos, felizmente tive forças para superar o trauma, tocar minha vida e seguir minha trajetória de super-herói.
As opções femininas, portanto, eram poucas. Duduzinho Pirata, que além de não enxergar com um dos olhos era míope do outro, era o único que de vez em quando arrumava alguma coisa. Mas, como a visão não era propriamente um sentido confiável, virava e mexia aparecia com alguma aberração.
Sendo assim, tínhamos que encontrar na criatividade a aliada para nossa iniciação sexual. Ah, já ia me esquecendo, a cidade tinha uma moça da vida, a Soledade, que deve ter chegado a Quissa nos anos 20, antes de Cristo. Ou seja, não havia opção.
O tempo foi passando e a secura aumentando. Até que um dia, caminhando pela estrada, avistei uma coisinha muito linda e jeitosa. Ela estava sozinha, e parecia perdida. Ao me deparar com aquele serzinho indefeso, me apaixonei no ato. Na hora, nem me preocupei como meus pais iriam reagir quando me vissem chegar em casa com uma cabra.
Os primeiros dias de namoro com Dara (resolvi dar esse nome à cabrinha em homenagem ao Cigano Igor, ídolo de toda uma geração, que era apaixonado por uma cigana chamada Dara) foram de muito romance, mas poucos contatos íntimos. Até que o amor falou mais alto e permitiu o grande momento da consumação. O desejo era forte, de ambos os lados. A noite estava linda, ensolarada, e escolhi um lugar bem romântico e aconchegante para despejar todo o meu vigor juvenil sobre Dara, que me olhava com aquele olhar pidão, sedenta de luxúria. Fomos para trás de uma moita, muito utilizada em alguns momentos de aperto (às vezes, eu tinha uma crise intestinal que era tiro e, literalmente, queda). Foram horas de loucura e, impregnado com o perfume da minha amada, retornei mais apaixonado do que nunca para o meu lar.
Nossa relação, sempre alicerçada por muito diálogo, parecia eterna. Mas um dia (sempre que me lembro dá vontade de chorar) ao acordar, virei-me para acarinhar minha amada e ela não estava a meu lado. Meu coração bateu mais forte, e pressenti que algo terrível teria acontecido. E, para meu desespero, meus sentimentos estavam corretos. Dara havia me deixado, sem sequer deixar um bilhete. A dor foi ainda mais aguda quando, uma semana depois, eu a vi, num amasso indecente com Ludovico, o jegue de Floriano Milhar, único bicheiro de Quissamanduca. E, desta forma, me sentindo traído e humilhado, tirei definitivamente aquela vadia da minha vida. Com a ajuda dos meus amigos, felizmente tive forças para superar o trauma, tocar minha vida e seguir minha trajetória de super-herói.
Troféu Cigano Igor (Julio Rocha)
Sua interpretação como o motorista sedutor João Batista, na novela Duas Caras (Rede Globo), vem impressionando experientes astros de Hollywood, como Al Pacino, Sean Connery e Robert de Niro, além dos galãs Brad Pitt e Leonardo di Caprio. Dizem, inclusive, que De Niro virá ao Brasil para ter aulas de expressão facial com o impressionante Julio Rocha.
Comentários advindos do Projac dão conta, também, que, a cada olhar do jovem ator, dezenas de mulheres (inclusive atrizes) desmaiam no set de gravação.
Comentários advindos do Projac dão conta, também, que, a cada olhar do jovem ator, dezenas de mulheres (inclusive atrizes) desmaiam no set de gravação.
Troféu Cigano Igor
Esse espaço é dedicado para divulgar a premiação do cobiçado troféu Cigano Igor, ofertado àqueles “artistas” incompreendidos, ignorados pela crítica especializada e por alguns bilhões de seres humanos insensíveis espalhados pelo mundo. É uma justa, porém modesta homenagem a estes injustiçados, visados pela inveja de colegas, e só devidamente reconhecidos pelos diretores das novelas que nos permitiram apreciar tamanho talento. O nome do prêmio é uma homenagem ao personagem mais relevante da teledramaturgia mundial (um difícil papel na novela Explode Coração, exibida entre 1995 e 96), interpretado por um verdadeiro ícone, Ricardo Macchi: aquele cara que é casado com a espetacular Ellen Rocche.
quarta-feira, 5 de março de 2008
Capítulo 4: A Primeira Missão
Eu tinha oito anos quando comecei a usar meus poderes para salvar as pessoas. Até então, me limitava a utilizá-los somente em meus números de malabares. Então, numa tarde ensolarada, iniciei minha trajetória como destemido super-herói.
Como fazia sempre depois de trabalhar nos sinais, brincava de “arremesso de três pontos” com meus amigos. Era muito divertido. Esperávamos seu Murrinha (um senhor que diariamente puxava um ronco sentado em frente ao boteco do Edgar Barrão) tirar sua pestana vespertina e nos posicionávamos a uns cinco metros de distância. O coroa tinha um problema no nariz e dormia com a caçapa, quer dizer, boca aberta para respirar. Fazíamos várias bolinhas com os miolos dos pães que o Juvenil trazia (seu pai trabalhava na única padaria de Quissamanduca) e, após animada adedanha para saber quem seria o primeiro, começávamos a sessão de arremessos. Como o velhinho não tinha dentes, não era tão difícil acertar o alvo, e rapidamente algum de nós conseguia o objetivo. A contagem era simples: três pontos pela “cesta” e mais dois de bonificação caso seu Murrinha soltasse um pum. É que quando a bolinha entrava, as pernas dele subiam (e ele junto) e, algumas vezes, escapava um traque no susto. Claro que a brincadeira acabava quando alguém acertava, pois o velho saía correndo atrás da gente. Mas no dia seguinte, mais uma emocionante partida.
Bem, voltando ao que interessa. Estávamos nos preparando pra iniciar a disputa do dia, quando escutamos um barulho terrível. Logo em seguida, algumas pessoas vieram gritando: “A casa da dona Calibrina explodiu! A casa da dona Calibrina explodiu! Paulinho se desesperou e, aos pratos, chamava pela mãe. Chegamos no local e vimos que o telhado da casa tinha um rombo que passava um ônibus. Procuramos em todos os cômodos e dona Calibrina tinha sumido. Nós nos dividimos em turnos e iniciamos a busca pela mãe do nosso amigo. Depois de três dias de intensa procura, encontramos a velha em cima de uma árvore, a mais ou menos uns dois quilômetros da sua casa (ela foi acender um cigarrinho e, como tinha “enxugado’ duas garrafas de Praianinha, o contato do fogo com o hálito de álcool fez com que fosse literalmente para os ares). Dona Calibrina, no entanto, estava viva (a bicha parecia até o Highlander), mas seu resgate era muito difícil (a árvore era alta pra cacete e a velha ainda estava espetava em alguns galhos). Depois de várias tentativas jogando pedras pra ela cair, Pedro e Duduzinho Pirata resolveram buscar uma escada emprestada com Xin-Cu-Pow, o chinês maluco dono da pastelaria. Foi aí que resolvi testar meus poderes: mirei os pulsos das minhas mãos na direção de Calibrina e disparei as teias. Com a velha sob controle, eu a tirei do alto da árvore e a coloquei no chão. Como ela ainda estava de porre, nem se ligou em como foi parar ali. Assim, pude manter meu segredo, além de de me sentir muito orgulhoso com minha primeira missão cumprida.
Como fazia sempre depois de trabalhar nos sinais, brincava de “arremesso de três pontos” com meus amigos. Era muito divertido. Esperávamos seu Murrinha (um senhor que diariamente puxava um ronco sentado em frente ao boteco do Edgar Barrão) tirar sua pestana vespertina e nos posicionávamos a uns cinco metros de distância. O coroa tinha um problema no nariz e dormia com a caçapa, quer dizer, boca aberta para respirar. Fazíamos várias bolinhas com os miolos dos pães que o Juvenil trazia (seu pai trabalhava na única padaria de Quissamanduca) e, após animada adedanha para saber quem seria o primeiro, começávamos a sessão de arremessos. Como o velhinho não tinha dentes, não era tão difícil acertar o alvo, e rapidamente algum de nós conseguia o objetivo. A contagem era simples: três pontos pela “cesta” e mais dois de bonificação caso seu Murrinha soltasse um pum. É que quando a bolinha entrava, as pernas dele subiam (e ele junto) e, algumas vezes, escapava um traque no susto. Claro que a brincadeira acabava quando alguém acertava, pois o velho saía correndo atrás da gente. Mas no dia seguinte, mais uma emocionante partida.
Bem, voltando ao que interessa. Estávamos nos preparando pra iniciar a disputa do dia, quando escutamos um barulho terrível. Logo em seguida, algumas pessoas vieram gritando: “A casa da dona Calibrina explodiu! A casa da dona Calibrina explodiu! Paulinho se desesperou e, aos pratos, chamava pela mãe. Chegamos no local e vimos que o telhado da casa tinha um rombo que passava um ônibus. Procuramos em todos os cômodos e dona Calibrina tinha sumido. Nós nos dividimos em turnos e iniciamos a busca pela mãe do nosso amigo. Depois de três dias de intensa procura, encontramos a velha em cima de uma árvore, a mais ou menos uns dois quilômetros da sua casa (ela foi acender um cigarrinho e, como tinha “enxugado’ duas garrafas de Praianinha, o contato do fogo com o hálito de álcool fez com que fosse literalmente para os ares). Dona Calibrina, no entanto, estava viva (a bicha parecia até o Highlander), mas seu resgate era muito difícil (a árvore era alta pra cacete e a velha ainda estava espetava em alguns galhos). Depois de várias tentativas jogando pedras pra ela cair, Pedro e Duduzinho Pirata resolveram buscar uma escada emprestada com Xin-Cu-Pow, o chinês maluco dono da pastelaria. Foi aí que resolvi testar meus poderes: mirei os pulsos das minhas mãos na direção de Calibrina e disparei as teias. Com a velha sob controle, eu a tirei do alto da árvore e a coloquei no chão. Como ela ainda estava de porre, nem se ligou em como foi parar ali. Assim, pude manter meu segredo, além de de me sentir muito orgulhoso com minha primeira missão cumprida.
terça-feira, 4 de março de 2008
Pérolas no Futebol: "Quando levantei, tava tudo se rodando”
Fabinho, ex-volante do Flamengo após se "recuperar" de uma bolada que recebeu no rosto. No lance, o goleiro Júlio César foi repor em jogo, acertou o companheiro e a bola acabou entrando. Esse foi o gol do empate do Bahia, que acabaria perdendo por 2 a 1, em partida válida pelo Brasileiro de 2003.
Pérolas no Futebol
Há uns cinco anos, resolvi anotar algumas preciosidades proferidas por celebridades do nosso futebol. Já que, depois do pedido desesperado de alguns amigos, resolvi criar este blog contando a trajetória da minha vida como super-herói, aproveito o espaço para dividir com vocês um pouco do material que coletei e pesquisei. Juro que é tudo verdade ( a maioria eu mesmo ouvi, e confio plenamente nas fontes das demais). Tem pra todos os gostos: frases de jogadores, treinadores e jornalistas, classe a qual estou me despedindo para me dedicar à minha carreira como cantor (quando der, volto a atuar como Spider). Divirtam-se.
Capítulo 3: A Morte Ronda Quissamanduca
Frei Natanael era um cara legal, zeloso com suas obrigações à frente da igreja. Tirando a bolada no saco, só um episódio fez com que se afastasse temporariamente de suas funções como líder religioso da comunidade quissamanduquense. Foi um episódio até hoje comentado na cidade.
Certo dia, Paulinho Pinga Pura chegou em casa e viu sua mãe estirada no chão da sala. A bicha estava imóvel e não respirava. Imediatamente, o desespero tomou conta daquele inocente menino. Logo a vizinhança correu para acudi-lo e se deparou com a dramática cena. Após alguns segundos de atendimento, o doutor Alípio deu a trágica notícia: “Já era!”.
A comoção tomou conta de Quissamanduca. A população se uniu e descolou um caixão (como já tinha sido usado em outra ocasião, precisou de uma pequena reforma). Uma hora depois, estávamos todos no salão da igreja velando a pobre dona Calibrina, também carinhosamente chamada de Branquinha.
Emocionado, Frei Natanael proferiu lindo sermão, lembrando quando dona Calibrina era apenas uma criança e, de traquinagem, roubava as garrafas de cachaça dos despachos de macumba pra beber escondida atrás da igreja. Amparado pelos fiéis, o frei foi conduzido a uma cadeira para se recuperar e, com seu puído lenço de papel (ele usava o mesmo há anos), enxugava as lágrimas de seu rosto enrugado. Neste momento, a beata Salu se aproximou do caixão para se despedir da velha amiga. Foi nessa hora que, dando um pulo, dona Calibrina sentou-se, agarrou Salu pela cabeça e, a menos de um palmo de distância, sussurrou algo indecifrável. O que se viu em seguida foi uma loucura. Uma gritaria e uma correria só. Até dona Emerenciana, uma senhora de 112 anos que há mais de 30 só se locomovia em cadeiras de rodas, disparou feito uma doida e varou a janela do salão da igreja. Frei Natanael, que foi o primeiro a se mandar, voltou à cidade somente seis meses depois (dizem que ele chegou correndo à Cumbuquinha Feliz, cidade que fica a 100 km de Quissamanduca).
A ressurreição de dona Calibrina, no entanto, nada mais foi do que a recuperação de uma síncope etílica, decorrente do porre fenomenal que ela tomou depois do almoço. Na realidade, a velha desmaiara e, como o doutor Alípio era surdo, não ouviu os batimentos cardíacos da mãe do meu querido amigo Paulinho.
Mas esse dia estava fadado mesmo a acabar de forma trágica. Depois de todo o fuzuê com a imaginada morte de Calibrina é que se pôde perceber que beata Salu era única pessoa que permanecera no salão. Estirada no chão como uma ripa, a pobre estava morta de verdade. Todos se entreolharam e comentaram: “Morreu de susto, morreu de susto!". Como o caixão estava lá de bobeira, neguinho aproveitou e enfiou a coitada no já castigado paletó de madeira. Três dias de luto em Quissamanduca e bandeira a meio pau.
Na outra semana, chegou o laudo da autópsia (demorou porque o laboratório mais próximo ficava em Santa Lourdes do Piriri, a 732 km de Quissa). O resultado chocou os cidadãos quissamanduquenses. Não foi ataque cardíaco o que tirou beata Salu do nosso agradável convívio. Na realidade, ela morreu sufocada. E a causa foi o bafo desferido por Calibrina ao acordar do coma etílico.
Certo dia, Paulinho Pinga Pura chegou em casa e viu sua mãe estirada no chão da sala. A bicha estava imóvel e não respirava. Imediatamente, o desespero tomou conta daquele inocente menino. Logo a vizinhança correu para acudi-lo e se deparou com a dramática cena. Após alguns segundos de atendimento, o doutor Alípio deu a trágica notícia: “Já era!”.
A comoção tomou conta de Quissamanduca. A população se uniu e descolou um caixão (como já tinha sido usado em outra ocasião, precisou de uma pequena reforma). Uma hora depois, estávamos todos no salão da igreja velando a pobre dona Calibrina, também carinhosamente chamada de Branquinha.
Emocionado, Frei Natanael proferiu lindo sermão, lembrando quando dona Calibrina era apenas uma criança e, de traquinagem, roubava as garrafas de cachaça dos despachos de macumba pra beber escondida atrás da igreja. Amparado pelos fiéis, o frei foi conduzido a uma cadeira para se recuperar e, com seu puído lenço de papel (ele usava o mesmo há anos), enxugava as lágrimas de seu rosto enrugado. Neste momento, a beata Salu se aproximou do caixão para se despedir da velha amiga. Foi nessa hora que, dando um pulo, dona Calibrina sentou-se, agarrou Salu pela cabeça e, a menos de um palmo de distância, sussurrou algo indecifrável. O que se viu em seguida foi uma loucura. Uma gritaria e uma correria só. Até dona Emerenciana, uma senhora de 112 anos que há mais de 30 só se locomovia em cadeiras de rodas, disparou feito uma doida e varou a janela do salão da igreja. Frei Natanael, que foi o primeiro a se mandar, voltou à cidade somente seis meses depois (dizem que ele chegou correndo à Cumbuquinha Feliz, cidade que fica a 100 km de Quissamanduca).
A ressurreição de dona Calibrina, no entanto, nada mais foi do que a recuperação de uma síncope etílica, decorrente do porre fenomenal que ela tomou depois do almoço. Na realidade, a velha desmaiara e, como o doutor Alípio era surdo, não ouviu os batimentos cardíacos da mãe do meu querido amigo Paulinho.
Mas esse dia estava fadado mesmo a acabar de forma trágica. Depois de todo o fuzuê com a imaginada morte de Calibrina é que se pôde perceber que beata Salu era única pessoa que permanecera no salão. Estirada no chão como uma ripa, a pobre estava morta de verdade. Todos se entreolharam e comentaram: “Morreu de susto, morreu de susto!". Como o caixão estava lá de bobeira, neguinho aproveitou e enfiou a coitada no já castigado paletó de madeira. Três dias de luto em Quissamanduca e bandeira a meio pau.
Na outra semana, chegou o laudo da autópsia (demorou porque o laboratório mais próximo ficava em Santa Lourdes do Piriri, a 732 km de Quissa). O resultado chocou os cidadãos quissamanduquenses. Não foi ataque cardíaco o que tirou beata Salu do nosso agradável convívio. Na realidade, ela morreu sufocada. E a causa foi o bafo desferido por Calibrina ao acordar do coma etílico.
Capítulo 2: Peripécias Infantis
A atividade de malabarista em sinais me proporcionou juntar um bom dinheiro. Como os únicos dois bancos que existiam em Quissamanduca eram os da pracinha (tinha sempre uns pinguços dormindo neles), eu precisava ir à cidade vizinha, Cajuzinho do Norte, para depositar algum no Bicano (Banco Internacional de Cajuzinho do Norte). Sempre fui muito previdente e, com muito sacrifício, consegui uma pequena fortuna, se comparada às posses da maioria esmagadora da população de Quissa.
Após um dia estafante de trabalho, eu, Pedro, Pinga Pura, Juvenil, Pirata e Cipó costumávamos nos reunir na pastelaria do Xin-Cu-Pow (um chinês maluco que resolveu se instalar na cidade) pra racharmos um pastel e um copo de ki-suco de groselha. Lá só tinha dois tipos de pastéis: o de ar ou o de vento. A gente ia no de vento porque enchia mais.
Essas lembranças me emocionam até hoje, porque me trazem lindas recordações dos tempos em que eu ainda não era o Spider-Man, idolatrado por todo o planeta. Lembro-me quando jogávamos bola em um terreno baldio que ficava colado à igrejinha. Frei Natanael sempre vinha se juntar ao grupo. Fazíamos um cascudinho (dividíamos dois times com três de cada lado, e o goleiro era o frei). A bola era de couro velho e virava um chumbo quando ficava molhada. Um dia, quando o campo era uma lama só, Cipó deu um bico (o dedão do pé direito parecia um pino preto de boliche) e acertou os, quer dizer, as partes baixas do padre. Graças a Deus, depois de quatro horas desacordado, o frei se recuperou. É bem verdade que ele demorou um pouco pra voltar a falar, o que o afastou dos sermões diários que dava na igrejinha. Felizmente, um mês depois ele voltou às atividades normais.
Após um dia estafante de trabalho, eu, Pedro, Pinga Pura, Juvenil, Pirata e Cipó costumávamos nos reunir na pastelaria do Xin-Cu-Pow (um chinês maluco que resolveu se instalar na cidade) pra racharmos um pastel e um copo de ki-suco de groselha. Lá só tinha dois tipos de pastéis: o de ar ou o de vento. A gente ia no de vento porque enchia mais.
Essas lembranças me emocionam até hoje, porque me trazem lindas recordações dos tempos em que eu ainda não era o Spider-Man, idolatrado por todo o planeta. Lembro-me quando jogávamos bola em um terreno baldio que ficava colado à igrejinha. Frei Natanael sempre vinha se juntar ao grupo. Fazíamos um cascudinho (dividíamos dois times com três de cada lado, e o goleiro era o frei). A bola era de couro velho e virava um chumbo quando ficava molhada. Um dia, quando o campo era uma lama só, Cipó deu um bico (o dedão do pé direito parecia um pino preto de boliche) e acertou os, quer dizer, as partes baixas do padre. Graças a Deus, depois de quatro horas desacordado, o frei se recuperou. É bem verdade que ele demorou um pouco pra voltar a falar, o que o afastou dos sermões diários que dava na igrejinha. Felizmente, um mês depois ele voltou às atividades normais.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Capítulo 1: O Início da Lenda
Tudo começou no verão de 38, quando alguma coisa aconteceu em algum lugar. Muitos anos depois, nasci numa manjedoura (opa, esse foi Cristo), quer dizer numa tenda indígena em Quixeramobim City, cidade onde passei boa parte da minha infância fazendo malabarismos nos sinais (ou semáforos). Como não tinha dinheiro para comprar as bolinhas, eu usava o que dava: laranja, ovo, pedra, sapato velho, o que pintasse.
Na realidade, foi nesta fase que percebi ser diferente dos demais. Bastava apertar uma das minhas mãos com o dedo médio que saía um troço estranho de um buraquinho no pulso (só mais tarde descobri que eram teias). Isso me ajudava muito como malabarista, e acabei ganhando um troco distraindo quem parava nos cruzamentos. Rica na produção de piolhos, Quixeramobim crescia no cenário nacional e internacional, e já contava com 13 carros, 52 bicicletas, 28 “burros-sem-rabo” e 33 carrinhos-de-mão. Também me divertia disparando a teia e levantando as saias das garotas. Parei com isso quando descobri, após uma das minhas brincadeiras, que a cidade tinha um travesti.
Bom, voltemos ao que interessa. Um belo dia, meu pai recebeu uma proposta irrecusável de emprego e resolveu se mudar com quase toda a família para Quissamanduca Town (deixamos minha tia Lupércia, que pesava 289 kg), onde assumiria a função de sub-assistente auxiliar de torneiro mecânico, profissão muito promissora na época (teve um que virou até presidente da República).
Foi justamente em Quissa (forma carinhosa como eu me refiro à cidade) onde conheci Pedro, que mais tarde seria Peter, o Parker. Como disse na minha apresentação (“Aviso à Humanidade”), ele era filho da prima do cunhado da tia de uma amiga da vizinha da minha avó. Rapidamente nos tornamos amigos e decidi lhe dar uma chance na minha equipe de malabaristas. Ao todo, éramos seis (alguém se inspirou nisso, mexeu no enredo e criou um romance): eu, Pedro, Paulinho Pinga Pura (o apelido era por causa de um terrível vício que a mãe dele tinha), Juvenil (era pra ser Juvenal, mas o escrivão errou ao registrar o nome), Duduzinho Pirata (ele não enxergava com o olho direito) e Cipó (vamos deixar pra lá a origem do apelido).
Disparado, eu era o melhor do time, e por isso ganhava mais dinheiro que os outros. Após três meses já tinha grana pra comprar uma caixa de fósforos, o que causava certo ciúme em meus colegas. A amizade, porém, era mais forte, e seguimos unidos, trabalhando e nos divertindo muito.
Na realidade, foi nesta fase que percebi ser diferente dos demais. Bastava apertar uma das minhas mãos com o dedo médio que saía um troço estranho de um buraquinho no pulso (só mais tarde descobri que eram teias). Isso me ajudava muito como malabarista, e acabei ganhando um troco distraindo quem parava nos cruzamentos. Rica na produção de piolhos, Quixeramobim crescia no cenário nacional e internacional, e já contava com 13 carros, 52 bicicletas, 28 “burros-sem-rabo” e 33 carrinhos-de-mão. Também me divertia disparando a teia e levantando as saias das garotas. Parei com isso quando descobri, após uma das minhas brincadeiras, que a cidade tinha um travesti.
Bom, voltemos ao que interessa. Um belo dia, meu pai recebeu uma proposta irrecusável de emprego e resolveu se mudar com quase toda a família para Quissamanduca Town (deixamos minha tia Lupércia, que pesava 289 kg), onde assumiria a função de sub-assistente auxiliar de torneiro mecânico, profissão muito promissora na época (teve um que virou até presidente da República).
Foi justamente em Quissa (forma carinhosa como eu me refiro à cidade) onde conheci Pedro, que mais tarde seria Peter, o Parker. Como disse na minha apresentação (“Aviso à Humanidade”), ele era filho da prima do cunhado da tia de uma amiga da vizinha da minha avó. Rapidamente nos tornamos amigos e decidi lhe dar uma chance na minha equipe de malabaristas. Ao todo, éramos seis (alguém se inspirou nisso, mexeu no enredo e criou um romance): eu, Pedro, Paulinho Pinga Pura (o apelido era por causa de um terrível vício que a mãe dele tinha), Juvenil (era pra ser Juvenal, mas o escrivão errou ao registrar o nome), Duduzinho Pirata (ele não enxergava com o olho direito) e Cipó (vamos deixar pra lá a origem do apelido).
Disparado, eu era o melhor do time, e por isso ganhava mais dinheiro que os outros. Após três meses já tinha grana pra comprar uma caixa de fósforos, o que causava certo ciúme em meus colegas. A amizade, porém, era mais forte, e seguimos unidos, trabalhando e nos divertindo muito.
Conheça um pouco mais sobre mim
Estado civil: Amancebado
Apelido: Russo (dos Trapalhões)
Um animal: Seu Alípio, da padaria
Signo: Javali
Grau de escolaridade: Jardim 3 (incompleto)
Matéria preferida: Massinha
Profissão: Comecei como malabarista e hoje sou super-herói.
Um costume: Chupar o dedão do pé
Um verbo: Reeneegezezizar (alumiar outra vez)
Outro verbo: Ospedar
Uma frase com este verbo: Ospedar da bicicreta é de prástico.
Um defeito: O do meu micro
Tatuagem: Um bâmbi alado no glúteo esquerdo
Um dia inesquecível: O daquela rabada com repolho que comi na padaria.
Uma bebida: Qual é o nome daquela cachaça mesmo?
Uma roupa: Meu pijama de flanela com todos os personagens dos Três Porquinhos. O short está sem elástico.
Um sentimento: Alívio, quando deixei o toalete da casa da minha ex-namorada no dia em que comi a rabada com repolho. Não sei por que, mas ela nunca mais quis me ver.
Iniciação sexual: Semana passada, com uma senhora que trabalha na casa de um vizinho. O apelido dela é “Chuá”.
Um sinal no corpo: Um ramo de arruda que nasceu atrás da orelha esquerda.
Um barulho agradável: Quando você descobre que matou aquela barata gigantesca nojenta.
Um barulho desagradável: Quando percebe que a barata gigantesca nojenta faleceu após ser pisada por seu pé descalço.
Uma frase que gosta de ouvir: Pode ir que o banheiro está vazio!
Uma frase que não suporta ouvir: Tem gente!
Uma frase que costuma ouvir: Sai pra lá, ô prego!
Número preferido: 42.847.056.448³
Uma comida inesquecível: Chuá.
Um doce inesquecível: O que comi na padaria. Na primeira dentada, perdi os dois dentes da frente.
Uma pergunta: Como assim?
Um perfume: Pra que, se tomo banho de 15 em 15 dias?
Um desodorante: Só em ocasiões especiais. Ultimamente, uso uma fragrância à base de cebola.
Parte do corpo que mais admira: As axilas
Parte do corpo que mais admira em uma mulher: O buço
Uma estação: De trem, da Pavuna
Uma cidade: Quixeramobim, onde nasci e se criei.
Uma Cor: A da sola do meu pé, preta.
Um livro inesquecível: Um que uma colega de Jardim 3 me arremessou quando eu tentei beijá-la.
Um filme inesquecível: A trilogia de "A vida de um Corno". Eu me emociono toda vez que assisto.
Uma música marcante: Impossível escolher apenas uma. Aponto toda a obra do Latino.
Um artista: Lula
Praia ou piscina? As duas. Ambas em Ramos.
Um desejo sexual secreto: Eu e Benedita nus num quarto escuro e com a porta trancada. Só me dêem um porrete!
Um pesadelo: Eu e Benedita nus num quarto escuro e com a porta trancada. Eu estava sem o porrete.
Um presente que gosta de dar: Aperto de mão
Um presente que gosta de receber: Tíquete refeição
Já ficou horas no telefone com alguém? Sim, tentando passar um trote para uma velhinha surda que morava no meu prédio.
Já teve uma conversa séria? Sim, eu devia ter uns quatro anos.
Riu até chorar? Ri tanto que até se borrei.
Já se sentiu muito feliz? Sim, quando me disseram que ganhei sozinho na Mega-Sena.
Já se sentiu muito triste? Sim, quando descobri que era mentira.
Última compra: Uma cueca do Pateta
Um sonho de consumo: Uma casa de campo em Quixeramobim, onde nasci e se criei.
Melhor amigo: Um africano de Serra Leoa que conheci no banheiro da rodoviária.
Alguém especial: O próprio
Uma lágrima: Uma prisão de ventre que tive há um tempo atrás.
Já se apaixonou algum dia? Sim, uma vez.
Já guardou um segredo? Sim, que minha paixão era aquele amigo de Serra Leoa da rodoviária.
Fez algo que se arrependeu? Sim, quando recusei o convite que ele me fez para nos casarmos e sermos felizes para sempre na selva.
Uma coisa que não suporta: A falta de consideração de certas pessoas que usam o orkut para enganar outras, contando mentiras em seu perfil. Aquilo é muito sério, gente! É quase uma agência matrimonial!
Amar é...: lo.
Para finalizar, uma frase que norteia sua vida: “A casa de João é bonita.”
Apelido: Russo (dos Trapalhões)
Um animal: Seu Alípio, da padaria
Signo: Javali
Grau de escolaridade: Jardim 3 (incompleto)
Matéria preferida: Massinha
Profissão: Comecei como malabarista e hoje sou super-herói.
Um costume: Chupar o dedão do pé
Um verbo: Reeneegezezizar (alumiar outra vez)
Outro verbo: Ospedar
Uma frase com este verbo: Ospedar da bicicreta é de prástico.
Um defeito: O do meu micro
Tatuagem: Um bâmbi alado no glúteo esquerdo
Um dia inesquecível: O daquela rabada com repolho que comi na padaria.
Uma bebida: Qual é o nome daquela cachaça mesmo?
Uma roupa: Meu pijama de flanela com todos os personagens dos Três Porquinhos. O short está sem elástico.
Um sentimento: Alívio, quando deixei o toalete da casa da minha ex-namorada no dia em que comi a rabada com repolho. Não sei por que, mas ela nunca mais quis me ver.
Iniciação sexual: Semana passada, com uma senhora que trabalha na casa de um vizinho. O apelido dela é “Chuá”.
Um sinal no corpo: Um ramo de arruda que nasceu atrás da orelha esquerda.
Um barulho agradável: Quando você descobre que matou aquela barata gigantesca nojenta.
Um barulho desagradável: Quando percebe que a barata gigantesca nojenta faleceu após ser pisada por seu pé descalço.
Uma frase que gosta de ouvir: Pode ir que o banheiro está vazio!
Uma frase que não suporta ouvir: Tem gente!
Uma frase que costuma ouvir: Sai pra lá, ô prego!
Número preferido: 42.847.056.448³
Uma comida inesquecível: Chuá.
Um doce inesquecível: O que comi na padaria. Na primeira dentada, perdi os dois dentes da frente.
Uma pergunta: Como assim?
Um perfume: Pra que, se tomo banho de 15 em 15 dias?
Um desodorante: Só em ocasiões especiais. Ultimamente, uso uma fragrância à base de cebola.
Parte do corpo que mais admira: As axilas
Parte do corpo que mais admira em uma mulher: O buço
Uma estação: De trem, da Pavuna
Uma cidade: Quixeramobim, onde nasci e se criei.
Uma Cor: A da sola do meu pé, preta.
Um livro inesquecível: Um que uma colega de Jardim 3 me arremessou quando eu tentei beijá-la.
Um filme inesquecível: A trilogia de "A vida de um Corno". Eu me emociono toda vez que assisto.
Uma música marcante: Impossível escolher apenas uma. Aponto toda a obra do Latino.
Um artista: Lula
Praia ou piscina? As duas. Ambas em Ramos.
Um desejo sexual secreto: Eu e Benedita nus num quarto escuro e com a porta trancada. Só me dêem um porrete!
Um pesadelo: Eu e Benedita nus num quarto escuro e com a porta trancada. Eu estava sem o porrete.
Um presente que gosta de dar: Aperto de mão
Um presente que gosta de receber: Tíquete refeição
Já ficou horas no telefone com alguém? Sim, tentando passar um trote para uma velhinha surda que morava no meu prédio.
Já teve uma conversa séria? Sim, eu devia ter uns quatro anos.
Riu até chorar? Ri tanto que até se borrei.
Já se sentiu muito feliz? Sim, quando me disseram que ganhei sozinho na Mega-Sena.
Já se sentiu muito triste? Sim, quando descobri que era mentira.
Última compra: Uma cueca do Pateta
Um sonho de consumo: Uma casa de campo em Quixeramobim, onde nasci e se criei.
Melhor amigo: Um africano de Serra Leoa que conheci no banheiro da rodoviária.
Alguém especial: O próprio
Uma lágrima: Uma prisão de ventre que tive há um tempo atrás.
Já se apaixonou algum dia? Sim, uma vez.
Já guardou um segredo? Sim, que minha paixão era aquele amigo de Serra Leoa da rodoviária.
Fez algo que se arrependeu? Sim, quando recusei o convite que ele me fez para nos casarmos e sermos felizes para sempre na selva.
Uma coisa que não suporta: A falta de consideração de certas pessoas que usam o orkut para enganar outras, contando mentiras em seu perfil. Aquilo é muito sério, gente! É quase uma agência matrimonial!
Amar é...: lo.
Para finalizar, uma frase que norteia sua vida: “A casa de João é bonita.”
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